quinta-feira, 20 de maio de 2010

Dando uma de comentarista de futebol

Ontem Wandereley Luxemburgo do Atlético-MG comunicou ao veterano Marques sua dispensa. Surpreso, Marques, que achava que seu contrato seria renovado até o fim do ano, demonstra ter aceito a decisão com resignada compreensão.

Aos 37 anos e mal atuando pelo time, já era hora do Marques aposentar e tocar a vida. Após contar por muitos anos com o ótimo futebol desse jogador e fazer sua glória, já era hora do Atlético deixar de lado a atitude de apadrinhamento de um jogador cujo valor era mais simbólico e sentimental. Sim, para nós hoje o Marques é mais uma lembrança viva de uns anos atrás, quando o Atlético chegou à final do Brasileirão, conquistou a Conmebol, disputou a Libertas e por aí vai. O Marques já fez sua parte pelo Galo e não se pode pedir que faça mais.

A decisão é sem dúvida graças ao Luxa. Se dependêssemos da massa, muito provavelmente o Marques ficaria no plantel até o fim do ano. O Kalil fez bem em contratar um técninco experiente, estrategista e com visão corporativa. A equipe está pensando alto, contratando jovens talentos e segurando os trunfos que já temos, e este é o caminho. Chega de viver de passado. Time de futebol não é pensão.

Marques tem seus planos para o futuro dele, o que é muito bom. Se for mesmo se candidatar, a massa votará nele em peso e ele sabe disso, porque quer ser logo deputado estadual. Ele sabe que todo o carinho, dedicação e respeito etc. vão continuar, ele os levará para o que quer que faça.

Kalil, você poderia fazer como fizeram outras equipes e dar ao Marques funções técnincas ou administrativas dentro do Galo. É importante ter antigos heróis ainda afiliados à instituição. Assim é o Leonardo para o Milan, assim é o Sorín para o Cruzeiro.

Às vezes precisamos seguir em frente, o que quer dizer afrouxar certos laços. Prender-se ao passado ou à nostalgia pode ser contra-producente. Reparem que eu não disse desfazer. Os laços continuam, só precisamos saber apertar ou soltar como pedir a situação.

sábado, 8 de maio de 2010

Globalização e Alienação - internet e interlíngua

Se por acaso você não sabe, sou professor de inglês e estudante de literaturas nessa língua. Minha área de atuação me faz estar em contato com a "língua de Shakespeare" 7 dias por semana, no mínimo 12 horas por dia. Afinal de contas, a "língua de Shakespeare" é hoje o idioma da tecnologia, dos negócios, da academia e do entretenimento. Ensinar inglês é lidar diariamente com as necessidades e expectativas de pessoas as mais diferentes que aspiram para si mesmas a um pouco da minha rica vivência com a lingua franca da atualidade. Para mim uma experiência privilegiada, mas ao mesmo tempo alienante, da qual quero falar um pouquinho.

Costumo dizer aos meus alunos, principalmente aos iniciantes, que aprender inglês é de certa forma como deixar de ser analfabeto, como desvendar olhos e enxergar tudo ao redor. No offense. Em grande parte não passa de retórica de primeira aula, discurso inicial, um jeito de exaltar os ânimos e impactar o moral daqueles que estão ainda céticos consigo mesmos. Ou que não têm idéia da significado de se aprender inglês.

Mas por toda a retórica pomposa, a afirmação não deixa de ser verdade. A pessoa que no mínimo lê em inglês fluentemente tem acesso a todo um universo de opções e possibilidades que o monolíngue às vezes nem sabe exisitirem. Veja-se, por exemplo, os adolescentes de hoje. Qualquer um deles navega a internet, ouve músicas, assiste a filmes e joga videogames e inglês, tudo sem necessariamente falá-lo com fluência. Suas práticas quotidianas requerem e ao mesmo desfrutam do idioma, o que para eles é absolutamente natural. Para adultos, os propósitos são mais específicos, e a falta do inglês pode significar prejuízos diretos, como a perda de uma oportunidade profissional ou incapacidade de acessar informações importantes, por estarem disponíveis numa língua que não conhecem. O falante de inglês se torna um componente ativo na engrenagem do mundo atual: realiza seus propósitos, interage em escala global e consegue satisfação pessoal. A língua se torna o trampolim para um desenvolvimento intelectual ainda maior.

E eu nessa história? Simples: ensino todo esse contingente ansioso a achar seu lugar no globo. Nada simples: me encontro frequentemente numa condição de auto-alienação. Por várias horas do dia, falo uma língua que não é a minha materna. Por causa da minha escolha acadêmica, quase 90% das minhas leituras são em inglês, não em português. Escrevo em inglês mais que em português, e o estilo da pimeira acaba interferindo decisivamente no da segunda. Quem fala duas línguas ou até mais sabe que o cérebro tem uma certa dificuldade pra armazenar e associar tanta coisa, fato cientificamente comprovado. Sou a prova disso: as palavras me fogem o tempo todo, sei-as em inglês melhor que em português. Esforço-me, mas é quase impossível resgatá-las na memória quando preciso. Também penso em inglês: as exclamações de raiva e alegria saem automaticamente traduzidas, não há Google que seja páreo para mim. Sem falar que cada língua traz embutida uma visão de mundo e uma lógica própria diferentes.

Tudo isso me frustra um pouco.

Por tudo isso e mais, acabo conhecendo a cultura angófona melhor que a própria brasileira! Leio mais literaturas em inglês que em português, ouço rock, jazz e blues e no entanto desconheço grande parte dos nossos gênios musicais; ainda estou pelejando para ler os grandes intérpretes da nação brasileira (Sérgio Buarque, Darcy Ribeiro e outros) mas posso me gabar de ter lido Thomas Hobbes e Charles Darwin no original. Li o Paraíso Perdido de Milton mas ainda não li o grande épico português Os Lusíadas.

Nada mal, mas podia ser melhor ainda, se eu tivesse tempo para exercer os dois lados.

Grande parte dessa imersão quase 24 horas é, sem dúvida, devido à internet, que facilita o acesso a absolutamente tudo. Graças a ela, não há mais barreiras geográficas para a informação. Concluo que o resultado disso para mim, e outros em condição semelhante, é um pouco alienante: no mundo globalizado somos cada vez mais indivíduos e menos membros de uma coletividade. Estar aqui agora, ser brasileiro e falante de português são uma mera questão de circunstância, isto é, algo facilmente mudável. De certa forma, estar em outro lugar falando outro idioma e imerso numa outra cultura não representam nenhuma mudança dramática num mundo que adotou uma língua em mais de 5 mil. E com todo esse mundo ao alcance do mouse, deixamos de ser apenas brasileiros, americanos, europeus, cristãos, muçulmanos etc. Podemos ser quase qualquer coisa, podemos nos identificar com o que bem quisermos.

As portas da percepção foram abertas, fellas. Eis a era do do it yourself, do self-made self. Eis o milagre da informação.

Isto é, se você está com o seu inglês em dia. Se não estiver, ainda dá tempo.

PS: e pra não dizerem que estou fazendo "merchã", não estou disponível para aulas.