sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

To be or not to be

Em tempos de profundas trevas na educação brasileira, eis que a chama da esperança ainda resiste na tempestade. Pelo menos no caso que eu tenho pra contar.

Recentemente, participei do processo de seleção duma conceituada escola de idiomas. Na semana de treinamento, pude conhecer mais de 50 candidatos ao posto de professor de inglês. Mesma meta, perfis muito diferentes: de um lado, aqueles cujo gosto os levou a uma formação apropriada para a coisa, a graduação em Letras; de outro, aqueles cujas circunstâncias ou a pura paixão pela língua os levou a quererem virar teachers - brasileiros recém retornados do exterior de mãos abanando, estrangeiros residentes, gente com tempo e vontade, entre outros.

A variedade de perfis é algo que o próprio ramo possbilita, pelo menos enquanto o único pré-requisito mor é saber a língua, o que não é privilégio dos graduados. Pra alguns, "dar aula de inglês" acaba sendo o último recurso, quando o idioma deixa de ser um item de qualificação pra virar o próprio instrumento do ganha-pão. That's alright. O que me surpreende não é só encontrar tanta gente, mas sim encontrar gente formada em outras coisas aspirando a se tornar... professores. Advogados, arquitetos, jornalistas e até um filósofo eram meus concorrentes nesta seleção. Este último porque chegou a achar, por pouco tempo, que "as pessoas tendem a considerar (ensinar inglês) uma coisa útil."

Além da insatisfação pessoal com as escolhas anteriores, o que nos diz esse fato? Diz, penso eu, que apesar do baixo status e das terríveis condições de trabalho, ser professor ainda é uma profissão que estimula paixão e entusiasmo nas pessoas. Sim, por pior que seja o pano de fundo de atuação, a imagem do professor ainda exerce um grande apelo em todos nós. Todos nós guardamos a memória marcante de um professor que fez mais do que nos ensinar uma disciplina, afinal eles são uma peça crucial em nossa formação; com eles passamos os anos que determinam como seremos.

Mas voltemos à nossa cruel realidade educacional brasileira. Para os teachers e professeurs e Lehrers por aí tudo parece estar indo razoavelmente bem, pois as escolas de idiomas e os colégios particulares são hoje ilhas de segurança, eficiência e respeito à profissão, onde as coisas funcionam algo perto do que devem ser. Mas e quanto aos professores de escolas públicas? Até quando a chama em cada um deles vai aguentar? E quando ela se apagar, alguém vai atirar a primeira pedra?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Monumentos do empreendedorismo humano

Dicionários são como catedrais, até mesmo superiores: demoram décadas pra ficar prontos, mas uma vez prontos duram séculos. A única diferença, talvez, é que, ao contrário da religião, as línguas mudam, portanto dicionários precisam de constante atualização. Mas a arquitetura que lhes dá vida nunca perderá sua gradiosidade. Aqui vai uma pequena homenagem a esses gigantes.

1. Woordenboek der Nederlandsche Taal



Esse gigante Grande Dicionário da Língua Holandesa é o maior do mundo. Está em construção há mais de 150 anos, registra vocábulos do séc.16 e já se aproxima dos 43 volumes e 50 mil páginas. É mole?

2. Oxford English Dictionary



A maior, ainda que não única, autoridade em inglês. A empreitada de montá-lo começou entre um círculo de homens de letras insatisfeitos com os dicionários existentes em 1857. O primeiro fascículo saiu em 1884. Hoje, serve de base pros outros que vieram depois e não há esse estudante que viva sem um.


3. K'ang Hsi



O ancestral dicionário da língua chinesa registra impressionantes 47 mil ideogramas (!) sendo que hoje não se precisam de mais do que um quarto disso pra se viver na China. Publicado em 1716, de pé até hoje, é uma maravilha do Oriente.

4. Diccionario de la lengua española de la Real Academia Española



O dicionário dos nossos irmãos de idioma foi fundado em 1780. Segue fuerte em sua 23a edição. Salud!

5. Deutsches Wörterbuch



Foram os famosos irmãos Grimm, notáveis filólogos que eram, que iniciaram a feitura do grande livro de palavras alemão. Duas guerras mundias e um muro depois, o projeto foi finalizado em 1961. O dicionário contem nada menos que 350 mil verbetes. Wunderbach!

6. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa



Embora pra maioria de nós o pai-dos-burros atenda por Aurélio, o maior e mais estupendo dicionário já composto para a grande língua portuguesa tem um nome complicado de libanês (mas imaginem se fosse Antonio!). Começado em 1985 e terminado dezesseis anos depois, esse gigante "traz cerca de 228.500 verbetes, 376.500 acepções, 415.500 sinônimos, 26.400 antônimos e 57.000 palavras arcaicas" (Wikipedia). Suas páginas são quase transparentes de tão finas, mas ao todo é uma obra sólida e dificilmente alguma outra no mundo lusofalante vai ultrapassá-la nos próximos séculos. Bravo, Sr. Houaiss.

Dicionários, estruturas dignas de um programa da NatGeo. Corajosos os caras que se lançaram à tarefa de fazê-los, merecem estátuas em praça pública, são ídolos da pátria. Respeite os dicionários - e aprenda infinitamente com eles.


"Dilmoplacia" petista

O caso Cesare Battisti pode até ser complexo, mas não creio que vale e pena sacrificar boas relações com um país amigo pra salvar o pescoço de um malandro só. O PT fica querendo livrar caras com "passado de lutas" (diga-se terroristas) como parte de sua agenda ideológica e já bate cabeça ridiculamente, desafiando a justiça italiana e a nossa.

Pra mim, leigo que eu sou, a coisa é razoavelmente simples: se a justiça italiana condenou Battisti, então não cabe ao governo brasileiro discordar. Seria como dizer que eles estão errados. Uma descortesia do tipo você chegar pro seu vizinho e dizer, na lata, "Não vou te emprestar minha furadeira porque você vai acabar estragando-a." Pode até ser verdade, mas não se faz isso.

Dizer que vão segurar o Battisti por uma questão de direitos humanos, que os italianos querem se vingar dele, é uma ofensa grave, ainda mais quando se trata de uma nação democrática. Se não erro, foi concedido asilo a dois atletas cubanos que desertaram durante os Panamericanos. Ali sim era o caso se preocupar com direitos humanos, pois o Fidelzão ia ficar macho com eles.

Só pra fechar, imaginemos que o infame Salvatore Cacciola tivesse se escondido na Itália e o Brasil doido pra por as mãos nele: os italianos teriam por que entregá-lo? Como diz o Sargento Rocha do Tropa de Elite, "quem quer rir tem que fazer rir, pô!" Quer cara mais diplomático que ele?
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PS: pra conhecer o outro lado da política externa nacional, leia quem realmente entende do assunto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Inventando a roda com Acir Antão

Sei que ouvir a "rádio de Minas" é meio que um clichê, assinalando muitas vezes o sujeito que nem sequer conhece as outras emissoras do Estado. Mas enquanto se prepara aulas qualquer passatempo serve.

Não sei, porém, pra que serve o programa do veteraníssimo Acir Antão - dono duma voz extraordinária -, que vai ao ar de segunda a sábado das 9 às 10. Acho que só mesmo pra passar o tempo, passar o horóscopo do dia (indispensável!) e ariar o brio da "dona-de-casa-amiga-e-companheira-de-todas-as-manhãs." Sem falar que o cara faz o social dele todo ali, hahaha! Deve ser por isso que ele tem liberdade pra falar de quase tudo e numa dessas soltou uma pérola sobre as políticas conjuntas das irmãs em miséria Contagem e Betim.

Segundo Antão, as prefeitas Marília Campos e Maria do Carmo Lara estão "inventando a roda" ao planejar interligar seus domínios por meio da velha estrada de ferro que passa por eles, implantando sobre ela o revolucionário (anote bem!) VLST, Veículo Leve Sobre Trilhos - em outras palavras, Metrô.

O troça do Antão faz sentido porque, afinal, há muito tempo havia de fato um trem naquela linha ligando municípios da Grande BH, numa distante época em que a capital era conectada por uma malha ferroviária razoável, com bondes indo da Pampulha até a Gameleira e trens levando plus ultra, uma geografia completamente diferente da atual. A cidade cresceu desordanadamente e o transporte sobre trilhos virou caminho de minhoca. Agora, algum funcionário a Prefeitura de Contagem deve ter informado a prefeita que tem uma linha de trem na cidade e ela pensou, "Pá! Como não pensei nisso antes? Me ponham na linha com a Maria do Carmo agora! Vamos fazer um trem!" E far-se-á o trem. Espera-se.

Agora, VLST é na verdade diferente de metrô, pois é um tipo de trem muito mais leve e tecnológico. Portanto, falar que vão pôr um desses na cidade é outra coisa. Qual é que vai ser?

O Acir Antão deve ter algo contra a nossa convalida Contagem ou então só está fazendo seu papel de prestador de serviços. Ao comentar sobre os 218 anos da banda de música de Sabará, além do fato de Mariana ter não sei quantas, o radialista soltou, "Agora, me fala quantas bandas de música tem Contagem? Pra mim Contagem tem 1 milhão de habitantes e não tem nem uma rodoviária." Se ele tem certeza que não há uma sequer banda de música em Contagem eu não sei, mas sei que temos um grupo jovem de música erudita que já inclusive se apresentou no exterior. Isso ele não deve saber. Mas, enfim, não temos uma rodoviária, não temos um teatro decente, não temos um hospital de ponta, não temos um aeroporto (muito menos!), não temos uma biblioteca abrangente, não temos um estádio razoável, nosso time de futebol só foi fundado em 2006. Não temos IPTU. Quem sabe quando de fato chegarmos ao 1 milhão...

Quem sabe sobra uma rebarba da verba da Copa pra fazer um puxadinho até nós?

Bloody French Bastards!!!

Demonstro aqui minha simpatia pra com a seleção irlandesa de futebol, que foi garfada no jogo contra a França pelas Eliminatórias 2010. Foi feio.

Pobres irlandeses, são uns underdogs da bola, custando pra aprender a jogar e vencer o trauma de praticar um "esporte inglês," e ainda por cima aprontam uma dessa com eles?! Assim eles só vão querer saber de futebol gaélico ou hurling, que ninguém tem a menor idéia do que sejam!

Joyce ficaria furioso com isso.


Better luck next time, lads.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Por que eu esqueci o 15 de novembro

Ontem olhei o calendário várias vezes consecutivas, fixamente, neste mesmo local, e em momento nenhum atinei pro fato de que era um dos feriados nacionais mais importantes. De quem é a culpa por eu ter esquecido a Proclamação da República?

Tirando a velha desculpa de estar ocupado e tal, que às vezes é legítima!, imagino que há outros fatores envolvidos. Creio que trata-se dum caso de cidadania pouco desenvolvida dos brasileiros, que pouco se importam com os feriados nacionais, entre outras instâncias de patriotismo e cidadania. Algo que vem lá de cima e de baixo, também. Algo, portanto, que precisa ser dialogado amplamente. Na minha opinião o país não incentiva o sentimento cívico como deveria, assim a população, já ceticizada pela podreira de nossa política, não consegue distinguir entre a entidade país e os políticos que ocupam cargos temporários. Triste.

Se temos feriados nacionais, é necessário celebrá-los oficialmente; não como se todos devessem ir às ruas pra cantar e ouvir discursos pomposos, mas algo que mostre que a data é mais do que uma simples data. Alguns feriados são de fato celebrados, como a Independência. Outros, como Tiradentes, passam batidos vergonhosamente.

É necessário começar essa educação da juventude pra cima. Uma vez discuti o tema com alguns alunos e a maioria mostrou-se indiferente. Eu perguntava, "vocês acham importante celebrar?" e eles respondiam, "sim"; daí eu rebatia, "então porque não o fazemos?" e eles diziam, "ah, porque brasileiro não tá nem aí pra isso." Ora, há uma contradição aí... Enquanto todos tirarmos o corpo fora, ninguém vai se beneficiar e nada vai mudar. Aí que entram o papel das lideranças, mas essa é outra história.

Em tempos de hino nacional nos estádios de futebol, que sentido faz que maioria das escolas, públicas e privadas, tenham abolido a solenidade de suas práticas? Poucas são as escolas que ainda põem seus alunos perfilados perante a bandeira, como saudosamente fazia a irmã Jesuína nos bons tempos de Helena Guerra. Uma vez por semana, a escola inteira - exceto os tampinhas. E tinha também a mãe do nosso amigo Fil, Professora Rosana, que nos ensinou os quatros hinos da pátria.

O negócio é esse: o país é maior que a corja de safados que o regem. Né?

domingo, 15 de novembro de 2009

O legado polêmico de Allan Poe

 
Oh! Lenore...
Este ano comemora-se o bicentenário de nascimento do escritor norte-americano que os franceses adoraram - sem entender! -, o bostoniano Edgar Allan Poe. Sua memória e obra estão sendo relembradas pelo mundo todo com congressos, leituras, reportagens e (provavelmente) re-edições. Dono de múltiplas facetas, Poe deixou sua marca, positiva e negativa, sempre controversa, em vários campos da literatura.

Podemos classificar Allan Poe, grosso modo, como um artesão incansável do ofício das letras, além de um intelecto privilegiado, capaz de sistematicamente abstrair e explorar os recônditos mais iluminados e escuros da mente humana. Ao mesmo tempo, porém, sua obsessão formalista e racional gera críticas quanto ao sucesso do que ele se propunha a fazer. Analisemos brevemente seus méritos e, se ele os tiver, desméritos.

Qual leitor, estudioso ou amador (por falta de melhor termo), nunca leu estórias como "O Gato Preto", "Os Assassinatos da Rua Morgue" e "O Escaravelho de Ouro"? Quem nunca gostou de terror, atmosferas góticas, paranóia e sangue? Poe está no top five dos clássicos populares devido a esse seu appeal temático. O que poucos sabem é que ele foi o inventor da estória de detetive. Sim, Poe criou o primeiro cara de hábitos esquisitos e inteligência assustadora que sai à caça de criminosos. Auguste Dupin é um parisiense pacato que num pulinho a um sebo encontra seu amigo/narrador, formando assim o modelo de dupla dinâmica indispensável em todas as séries do gênero. Dupin usa apenas seus neurônios pra desvendar os mistérios: raciocina sobre os fatos, põe-se na mente do inimigo pra saber seu próximo passo e chega às respostas. O modelo foi usado posteriormente em inúmeras duplas de detetives, como Sherlock Holmes e Hércule Poirot, só pra ficar com o mais famosos. Uma falha apontada nas Dupin stories é que ele às vezes sabe mais do que nós e assim não ficamos no mesmo terreno. Numa boa estória de detetive, leitor e herói têm de dispor das mesmas informações, pra que não sobre dúvida de que eles são bem mais fodas que nós, pobres diabos.

O pioneirismo de Poe nesse gênero de estórias é facilmente explicável por sua fascinação pelo racional, pelo lógico, pela preocupação com a construção ultra-meticulosa das tramas. Para ele, toda narrativa devia ser escrita do fim pro começo, ou seja, deve-se primeiro pensar no efeito causado pela resolução, como a surpresa etc., e daí trabalhar detalhe por detalhe pra que tudo se encaixe e culmine naquele final surpreendente. Na poesia, Poe acreditava numa espécie de reino platônico da beleza, um plano superior que o poeta tenta acessar e traduzir em poesia. O poema precisa elaborar este sentimento, fazer-se instrumento da beleza pura. Na prática, porém, nem sempre funcionava...

Um conto que ilustra as concepções poenianas com muito sucesso é o famoso "O Barril de Amontillado," amplamente aclamado pela crítica como um dos melhores. Esta trama de vingança gira em torno da frase nemo me impune lacessit, presente no brasão da família do vingador Montressor, que quer dizer "ninguém me fere impunemente." Com excelente uso de ironia dramática, o personagem acaba por fazer jus a seu mote e suas intenções, levando a cabo a vingança de modo notável e imperceptível.

Outro conto que não funciona tão bem é "O Coração Delator." O fio condutor deste é a frase "Nunca antes daquela noite eu sentira a extensão de meus próprios poderes, de minha sagacidade." O protagonista deste conto deseja matar um velho com quem divide morada porque o olho de abutre dele não para a nenhum momento de fitá-lo acusadoramente, levando este já louco vizinho à insanidade total, daí a ironia de seu comentário acima. O assassino acredita ter os sentidos super-sensíveis, o que o faz ouvir o coração do velho a todo momento. Após matar, esquartejar e esconder o corpo do velho embaixo do assoalho de seu quarto, o narrador/protagonista (na falta de um nome próprio) recebe a visita dos cops, quero dizer, dos home, quero dizer, da polícia, que ouvira gritos e vasculha a casa a procura de algo errado. O protagonista, nervoso mas pretensioso, os leva ao seu aposento e se senta em cima do cadáver, mas ali começa a ouvir o coração do morto bater, literalmente, e, enlouquecido, se entrega num ataque de paranóia. Aqui, em minha modesta opinião, a idéia dos sentidos superaguçados me pareceu exagerada e sem sustentação na trama, pois só serve para o cara ouvir algo que não acontecia de fato e acabar pirando de vez. Faz algum sentido, pois ele já era louco e no fim faz jus à proposição citada acima, mas mesmo assim é um recurso forçado, que não tem liga com o resto dos acontecimentos. Percebe-se isso ao se ler o conto, fica claro que Poe precisava de alguma coisa que ajudasse a culminar no final que tinha em mente e não conseguiu pensar em algo melhor. Enfim, não se acerta sempre. 


 Tell-tale Heart, de Henry Clarke
Apesar de muita teoria, a poesia de Poe é universalmente considerada péssima. Recentemente, um expert dos EUA afirmou num congresso em BH que, dos 50-e-poucos poemas que Poe escreveu, salvam-se uns 5. Alguns acham que nem isso. Se você gosta do famoso "O Corvo," pode continuar gostando, não tem problema, mas saiba que em inglês ele é considerado bem medíocre por seu ritmo infantilóide. Outros, como "Os Sinos," só podem ter sido concebidos em momentos de embriaguês absoluta e não com a frieza do mestre. Melhor pensar que foi.

Espero ter conseguido demonstrar como o legado de Poe é controverso. Entre outras considerações que se podem fazer hoje, uma delas é que a teoria poética poeniana é bastante ingênua, pois de certa forma implica a ultrapassada idéia que ler poesia é tentar entender o que o poeta quis dizer, já que ele expressa um vislumbre da beleza superior. Por outro lado, sua influência sobre outros escritores tem sido forte. Poe arrancou elogios de Freud e Jung, entre outros, por suas explorações da mente, e também pregava que escrever é um exercício meticuloso, ao contrário dos românticos de sua época, que passavam a idéia de que eram como profetas, porta-vozes de Deus.

Abaixo vão alguns links pra ler Poe em português. Leia, divirta-se (?) e depois tire suas próprias conclusões.


http://www.releituras.com/eapoe_coracao.asp


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A opulência dos trópicos e dos nórdicos - parte II

E como diria o José Simão, "Buemba! Buemba!" A crise andou bem apertada n'alguns cantos desse mundão. E na Islândia - onde mesmo? - a não toda poderosa McDonald's encerrou atividades após ver um custo operacional já exorbitante aumentar ainda mais. O pequeno país gelado correu pras lojas pra desepedir-se dos Big Macs antes das McPortas se fecharem pra sempre. McDonald's agora só quando um parente for viajar ao exterior e trouxer congelado pra casa, o que lá naquelas alturas não é nenhum desafio.

Aquele rincão inalterado de Vikings foi pelo jeito um dos estados que mais apanhou da crise, que fez um ano outro dia aí. Os bancos do país foram à bancarrota, o que, num lugar com 200 mil habitantes, deve significar que todo mundo teve de quebrar o porquinho pra pagar contas. Viraram o primo pobre da família nórdica. O dono da franquia do fast food lá afirmou que estava pagando preço de whisky por cebolas da Alemanha, tão absurda era a situação. Aí, meu amigo, é mais digno abrir uma importadora de gole, que os islandeses bebem bagaraaai.

Enquanto isso, o Brasil sai firme e orgulhoso da crise, com uns socos na barriga e uns chutes na cara, mas nada que não seja capaz de aguentar com altivez. Estamos comprando caças, vendendo mais carros do que comportamos, sediando dois eventos esportivos tamanho GG, triplicando o IPTU em Belo Horizonte, dando dinheiro pra Evo Morales e, como de costume, entregando mais milhões e milhões às mãos de políticos que não nos fazem porra nenhuma. Quem falar que o Hospital Municipal de Contagem tem estrutura comprometida, falta de pessoal e de medicamentos está caluniando. Ah! esses pessimistas da nação!

Já que os tempos são tão bons, até eu que não sou empresário vou cantar a pedra pr'aquele que for esperto o bastante pra me ler: vendam cachaça e comidinhas brasileiras pros islandeses; torresminho, mandioquinha frita, bobó de camarão, espetinho de gato, empada, tropeiro... carne-de-sol! (pegou o trocadilho?) Sempre digo, ninguém deixa de comer só porque tem uma crise de merda enchendo o saco, e quem paga caro por cebolas e cópias insossas, plastificadas e sanitizadas de hamburger vai pagar o dobro pela nossa linda variedade gas-tro-nô-mi-ca. Os branquelos vão pirar o cabeção. Vão por mim.

E de quebra, tragam umas escandinavas.

O futuro é nosso!

sábado, 7 de novembro de 2009

Shakespeare, precursor dos estudos culturais?

William Shakespeare é, por assim dizer, o segundo pilar da literatura ocidental, o primeiro sendo Homero. Pilares um tanto quanto chacoalhadiços, vale a pena mencionar, já que questiona-se até mesmo se realmente existiram. Muitos afirmam que jamais houve um Homero, pelo menos não como o autor do épico grego; se existiu, teria sido apenas o responsável por coletar as partes do mito fundador da Hélade, que na época estavam na boca do povo, e reuni-los num texto definitivo. Há quem afirme que a Ilíada e a Odisséia foram obras de mais de uma mão e que isso é visível no estilo flutuante ao longo das centenas de versos. No caso do bardo de Stratford, há duas vertentes principais: os Stratfordianos, que não duvidam que o dramaturgo tenha existido e escrito sua grandiosa obra; e os Oxfordianos, que atribuem a obra shakespeareana ao também poeta Edward de Vere, 17o conde de Oxford. Há ainda os que creem que Francis Bacon seja o gênio por trás dos versos insuperáveis de "Will da lança."

Hoje, Shakespeare movimenta uma indústria acadêmico-cultural gigantesca, que o exporta como próprio sinônimo da anglicidade, assim como os franceses exportam filmes sobre como é bom ser francês e como Paris é maravilhosa. O homem é a epítome das belas-letras: é tão doloroso para qualquer escritor viver sob sua sombra que muitos o negam veementemente, o que deve lhes dar uma sensação necessária de alívio e auto-estima. Alguém assim é um prato transbordando para o desconstrucionismo dos tempos contemporâneos, incluindo aí o feminismo, o pós-colonialismo e outros -ismos dos estudos culturais, pros quais qualquer figura autoritária, opressora e representante da sociedade patriarcal deve ser destruída.

Acontece, porém, que Shakespeare strikes back do alto de sua torre de marfim. As mesmas questões que hoje interessam aos estudiosos das humanas - em suas torres de marfim - aparecem aqui, ali e acolá em Shakespeare, e sua obra já é há muito estudada por um viés pós-colonial e feminista. Há no mínimo duas peças em que essas questões são problematizadas de forma notável, O Mercador de Veneza e A Tempestade. Ousarei falar da primeira.

Em O Mercador, um judeu agiota empresta dinheiro ao seu pior inimigo, o respeitado comerciante Antonio, pra que este ajude seu amigo (colorido) Bassanio a cortejar a bela ricaça Pórcia. Não diferente da maioria cristã da cidade, Antonio exerce seu preconceito por judeus caluniando e cospindo na cara de Shylock, cuja profissão de usura é endemoniada pela sociedade católica. Assim, o judeu vê no empréstimo a chance de vingar-se pelas injúrias que recebe. A pena caso Antonio não honre o compromisso é meio quilo de carne do seu próprio peito (!). Se você acha isso absurdo, é porque é mesmo, mas na hora Antonio não tinha a quem mais recorrer e ele chega a crer, do alto de sua condescendência, que Shylock está ficando generoso porque "não vai cobrar juros." Mas o azar de Antonio é macrométrico, pois sua fortuna perde no mar e ele se vê sem "as prata" pra livrar seu rabo do maligno judeu. Enquanto Shylock afia seu facão com alegria incontida, a já noiva do mancebo Bassanio aparece no julgamento disfarçada de jovem magistrado, sem que ninguém na praça o perceba, intercede em favor de Antonio, usando uma brecha na lei  pra incriminar Shylock, que de quebra tem sua fortuna confiscada e é forçado a converter-se católico. No fim, como em todas as comédias, tudo dá certo, acontecem três casamentos, todos vão pra cama, e não é que a notícia do naufrágio dos navios mecantes de Antonio não era só um boato?

Espero ter resumido a trama da peça bem o bastate pra poder explicar, então, como Shakespeare retrata o papel das minorias. Primeiro, uma minoria étnica e diaspórica, representada em Shylock, buscando um lugarzinho ao sol, sendo esmagada e feita propriedade do estado cristão. A filha de Shylock foge, rouba parte da grana do pai como "lição de moral" e casa-se com um cristão, entregando-se de pernas abertas à nova religião. Segundo, uma minoria de gênero representada pela sagaz Pórcia, que mostra como a mulher inteligente pode contornar o poder patriarcal da sociedade subvertendo o gênero através das aparências. Ela não só salva Antonio como também entrega a grana do judeu de bandeja para a cidade. Em outras palavras, ela guarda todos os marmanjos no bolso ao mostrar que entende a lei deles melhor que eles mesmos. Ao final, na trama paralela dos anéis, Pórcia dá outra nos homens provando que são elas quem têm total controle sobre eles e os assuntos da casa, da família e da vida amorosa. Ou seja, quem decide se o cara vai ou não ser um corno são elas.

A preocupação polítca tão contemporânea na obra de Shakespeare não é coincidência ou fruto de seu gênio. Afinal de contas, algumas dessas questões eram da ordem do dia no fim do séc. XVI, quando os países europeus buscavam firmar-se como nações, a igreja católica buscava manter seu poder na Europa e expandi-lo ao Novo Mundo e Ásia, e os judeus eram encurralados e forçados a converter-se, nem que a força do pau-de-arara. A questão feminista, essa eu não sei a quantas ia 500 anos atrás, imagino que ainda nem engatinhava. Mas pras mulheres o sentimento sempre deve ter existido

De prato cheio pra se descer a lenha, Will vira prato cheio se nadar de braçada. É isso que faz dele mais do que leitura obrigatória nas aulas de Elementary School ou no repertório dos escritores? Talvez, mas o que importa é comparar o que obras como O Mercador e outras exibem em comum com as atuais, assim como a reação das audiências elizabethanas com a nossa diante do bufão cômico Shylock. Duvido que hoje alguém não se compadeça com a miséria desse judeu, mas o espectador daqueles tempos o teria visto como o próprio diabo, um estereótipo exagerado de sujeito mal e ganancioso, que prefere o dinheiro à filha. Shakespeare parece se aproveitar dessa visão raza para por na boca de Shylock as falas mais eloquentes e tocantes da peça. Qual deve ter sido a surpresa geral no Globe Theatre ao ouvirem raciocínios tão afiados em versos da mais elevada beleza! Bloody Jew!

Aí está, pra mim, por que ler Shakespeare.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ser brasileiro é o que há

As vantagens de ser brasileiro! Leia esse artigo interessante que encontrei no excelente PapodeHomem.com.br.

http://papodehomem.com.br/sou-brasileiro-com-muito-orgulho/

Trata-se apenas de uma visão pessoal e nada mais especial do que a minha ou a sua, mas ainda assim interessante pelo fato do autor ser um cara com o privilégio de conviver com gringos e viajar pro exterior de vez em quando.

E, de quebra, explore o resto do site para informações ainda mais interessantes.

sábado, 31 de outubro de 2009

... não desiste nunca

A Polícia Federal montou operação neste feriado pra tentar diminuir o grande número de mortes em nossas estradas.

O nome da operação: Finados.

Isso é que é otimismo!

RIP
no feriado

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ressurgirá das cinzas

Como testemunhei no meu outro blog há quase um ano, quando estava nos EUA, o duplo mote da cidade de Detroit é, em Latim, esperamos dias melhores e ressurgirá das cinzas. As frases não se referem à presente conjuntura de Motown, que continua digna de sua bandeira, mas a um passado distante, quando um incêndio, daqueles de botar inveja no insano Nero, arrasou com a cidade.

Mas estou aqui pra falar do Rio, que pode fazer das de Detroit suas próprias esperanças. Outro dia vimos o confronto entre polícia e traficantes ceifar a vida de dois PMs que sobrevoavam uma favela no complexo do Alemão. Do alto de suas citadelas fortificadas, os bandidos alvejaram um helicóptero levando três homens, que logo pegou fogo e iniciou queda livre. Heroicamente, o piloto conseguiu pousar a máquina em chamas e salvar-se, mas seus dois companheiros não tiveram a mesma sorte. O nome da nave: Fênix II. Dramaticamente irônico esse episódio, pois essa falecida ave da crua realidade brasileira nada tem em comum com a mitológica: não ressurgirá de suas cinzas jamais. No máximo, algumas partes em bom estado serão guardadas prum futuro transplante. Me pergunto se a Fênix I ainda bate asas.

Enquanto brinco inutilmente com as palavras, nosso governo se gaba de trazer Copa do Mundo e Olimpíadas pruma cidade em pleno estado de guerra, guerra que o governo não está ganhando. Que ousadia inconsequente a desses barbados! E enquanto isso em BH a tão prometida expansão do metrô já foi "desprometida," pelo menos por agora, pra finalidades eleitoreiras, como tem sido. Isso deve nos dar uma boa idéia do grau de comprometimento dos nossos políticos pra conosco e com os compromissos que fazem.

É como disse um certo romano, O tempora, o mores!


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Abaixo as palmeiras

Se há algo que me irrita profundamente em termos de arquitetura e paisagismo, ainda que eu não passe dum leigo no assunto, é como empregam-se palmeiras onde elas não fazem sentido. Canteiros, fachadas, ou até mesmo no campo, elas destoam do resto da paisagem na maioria dos locais em que são postas. Não consigo ver a relação estética delas com o resto dos ambientes.

Consideremos, por exemplo, o Grande Hotel de Araxá:



quem, ao ver esta foto sem saber do que se trata, pensará que esta pérola se encontra nas nossas "queridas Minas Gerais?" Reparem como, de um complexo condizente com seu contexto mineiro interiorano, o Grande Hotel ganha ares de resort de praia. O Grande Hotel segue o chamado estilo missões, inspirado na arquitetura espanhola no México e na Califórnia. Tem mármores esplêndidos, mobília francesa, lustres e cristais alemães. Em outras palavras, é clássico. E não está na costa, como os edifícios dos nossos hermanos do norte, mas sim encravado a mil quilômetros dela, no limiar do Planalto Central. Nada a ver com palmeiras. Um crime à dignidade do prédio.

Lugar de palmeira é na praia, à beira-mar, com uma rede amarrada entre duas delas pra se deitar displicentemente e ver o vai-e-vem das ondas ao pôr-do-sol. E, dadas as atuais circunstâncias do Campeonato Brasileiro, devo mudar o artigo definido e dizer, também, abaixo o Palmeiras. O Galo vai dar um jeito nisso logo, logo. Mas quem vai dar um jeito nelas?

sábado, 24 de outubro de 2009

Certo ou errado?

O Programa Cidade Limpa, da prefeitura de São Paulo, parece estar se esmerando pra manter a metrópole arrumadinha. Os outdoors irregulares foram banidos com mão de ferro. O próximo passo, aparentemente, são os mendigos. O paulistano agradece, mas nem tanto essa população despossuída que habita nossas ruas. De propósito ou não, as medidas do programa estão encurralando os mendigos, privando-os de seus limitados recursos. Bancos de praças foram dividos em lugares individuais com barras, de modo que ninguem consegue deitar neles. Grades foram postas em frente às escadarias das igrejas pra que ninguem durma nelas. As calçadas são lavadas todas as noites, de modo que deitar nelas se torna um perigo, pelo frio que faz na noite paulistana. Ao amanhecer, as mesmas equipes passam recolhendo colchões, cobertores, folhas de papelão, roupas, calçados e tudo mais que encontrarem. São Paulo tem 15.000 moradores de rua e 9.000 vagas nos albergues.

É uma sacanagem(?). Todo cidadão tem o direito de usufruir de cidades limpas e sem perigo de assaltos, mas o mendigo também é um cidadão com direitos básicos garantidos por lei, que o estado falha em garantir. Se a limpeza urbana passasse e carregasse pertences nossos, ficaríamos justamente ultrajados. Então, quem dá à prefeitura o direito de carregar os parcos pertences dos sem casa? É um tratamento covarde e que beira o desumano. O buraco é mais embaixo, a população não deveria estar omissa a isso.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Por que o seu filho deve ser um metaleiro

Se, como eu, você está num relacionamento sério, leitor do sexo masculino, você sabe que pegar-se falando de casamento e filhos é uma temeridade normal, da qual não tem como fugir. Ossos do ofício. Foi numa dessas ocasiões, em que discutia como melhor criar filhos, que cheguei à conclusão - após uma árdua arguição pela minha namorada - que, quando o assunto é gosto musical e atitudes adjacentes, o melhor para os pais é que seus filhos sejam metaleiros. Já explico.

De modo geral, digamos que o heavy metal constrói caráter. Talvez não seja o ideal, que seria o seu filho ser um amante da música erudita, mas serve bem em vista do que há por aí. Pra começar, menciono a grande quantidade de moleques - e molecas - que decidem aprender um instrumento inspirados por seus ídolos musicais. Pra estar abilitado a tocar esse gênero há que dedicar-se muito, pois o rock em geral está cheio de grandes virtuoses, cujo passado pregresso inclui oito horas diárias de estudo trancafiados no quarto (que isso redima o resto). A molecada se organiza em bandas e aprende a trabalhar em grupo, dando voz a sua sensibilidade. No meio do caminho, muita vezes surge um interesse gradual por outros gêneros musicais mais conceituados, como o MPB, o clássico e o jazz, o que enriquece a experiência musical dos meninos.

O gosto pela música em si trará benefícios ao comportamento do seu filho. Fã de heavy metal (e rock em geral) vai a show pra ouvir a banda tocar - e, por que não, fazer uma modesta tietagem. Ao contrário do que muita gente pensa, shows de metal são organizados, o público é em sua grande maioria pacífico, não rouba, não arruma briga e prestigia as bandas. Elas adoram o Brasil. Ninguém está ali pra beijar 25, dar amassos, transar e engravidar atrás do trio elétrico, ao contrário da turminha de abadá. Vê-se o show, depois comenta-se com entusiasmo sobre a performace da banda, a estrutura da casa, o equipamento e o repertório; come-se um dogão e ruma-se pra casa. Prejuízo: uma minúscula perda de audição que se manifesta por um zumbido que durará até a manhã seguinte. Mais nada.

Engana-se também quem pensa que todo roqueiro é pé-de-cana e dependente químico. Claro que há muitos beberrões no meio, assim como há em qualquer lugar. Mas não há nada no metal que crie uma ligação com álcool. Eu mesmo cresci com meus amigos ao som de power chords e tappings bebendo a boa e velha Coca. Mais de uma vez já vi moleques metaleiros, inconfundíveis em seus trajes pretos, coturnos militares e cabelos compridos e disciplinados, em pé na porta do supermercado comendo biscoito recheado e tomando iogurte. Idílico. Não são mais do que moleques em busca de uma identidade, um senso de grupo, algo que lhes faça crer estar envolvidos numa boa causa, só isso. E pra matar a fome na rua nada melhor que biscoito e iogurte. Sacou?

Meu último argumento de que metaleiros são pessoas muito melhor influenciadas e comportadas do que a galera mainstream do pagode, funk etc. é que o metal explora o reino da mais pura fantasia. Quantas são as bandas que flertam com mitologia, folclore, estórias de reinos distantes, cavaleiros valorosos, princesas "fremosas" e batalhas ao por-do-sol? Pensem em Blind Guardian, Thuata De Dannan e Rhapsody, por exemplo - nada contra elas. Quão ingênuo e inofensivo é o adolescente que viaja na onda de caras de naipe assim?


Combatendo o mal
Preciso dizer mais? Quanto àqueles que acham que metal é coisa do diabo, Ozzy Osbourne é um bufão, coisa do diabo é 5 mil pessoas ensandecidas atrás do trio elétrico, bêbadas, vomitadas, semi-nuas e esfregando-se uma na outra num frenesi incontrolável.
Preciso dizer mais?
Por isso, senhoras de senhores, pais e mães do Brasil, atualmente e por tornar-se, estimulem seus filhos a encher o silêncio sagrado do lar cristão com heavy metal. Os benefícios serão pra vida toda. Seu filho ou filha vai crescer um adolescente tranquilo, adquirirá um gosto por músicas de qualidade e outras artes, não se meterá com más companhias e ficará longe de encrencas. Uma adolescência perfeita, uma passagem perfeita para a vida adulta pacata e bem sucedida. E se forem legal com eles, eles virão visitar com frequência, anotem o que estou dizendo.

E viva o rock!


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Entre os muros da Escola - dentro e fora




Quem quiser refletir sobre esse ótimo filme Laurent Cantet deve, em minha opinião, começar pelo título, cuja imparcialidade está aberta a várias possbilidades: uma crítica, um alerta, um grito de socorro, todos são plausíveis. Dada a complexidade do assunto, penso eu que o que Entre os Muros faz é nos dar uma visão neutra do processo de educação com enfoque no ambiente escolar e pouca interferência do que há de fora.

É claro que não podemos ignorar o que se passa fora da escola pra entender o resultado do esforço de guerra que é formar cidadãos. Não obstante, é muito importante sabermos que métodos norteam o funcionamento das coisas dentro dela. Se há qualquer crítica à escola em Entre os Muros, é porque ela inevitável, uma vez que são focados a sala de aula, o papel do professor, o comportamento dos alunos, a participação de pais, entre outros. O problema é complicado demais pra se acusar apenas um lado. A escola é o local crítico de todos os fundamentos e práticas de nossa civilização. Não o inicial nem o mais importante, pais! É nela que as pessoas devem aprender a entender o porquê de tudo ser como é, o motivo de haver leis, a necessidade de autoridade e disciplina e a importância do conhecimento. Mas a escola não pode simplesmente se valer de seu poder para impor esses fundamentos e doutrinar mentes com os valores que tem por missão transmitir. A escola deve ter a boa vontade para dialogar e não pressupor que os estudantes já entendem claramente porque estão lá. Apesar disso, é muito difícil corresponder às expectativas, pois pessoas em idade estudantil geralmente carecem de maturidade o bastante para entender por que precisam ir para a escola. Muitos chegam lá com idéias tortas do papel dessa instituição. Muitos não se importam, acham que ela não fará diferença em suas vidas sem sequer lhe dar uma chance. De modo geral, há uma boa dose de resistência à cooperacão em ambas as partes.

Voltando ao filme, há aspectos dignos de nota. A interação do corpo docente é bem desenvolvida. A atuação dos adolescentes é muito boa. O fato interessantíssimo é que os professores no filme são de fato professores na vida real, o que facilita a encarnação no papel e acrescenta um tom de documentário à produção. As cenas em sala são fidedignas, deve ter sido muito difícil fazê-las parecer naturais apesar da manobra inusitada de Cantet. O professor François é o retrato do professor atual, que se vê no dever de lutar pra preservar sua autoridade em meio à algazarra e à indiferença ao seu conteúdo. O enfoque no professor de língua francesa não foi por acaso, pois dominar o vernáculo é a competência mais importante de todas: é o pré-requisito para as outras matérias e pra tudo mais na vida. E como ensinar a língua materna se todos já a falam fluentemente? Primeiro, e mais importante, ensinando os alunos a ler e escrever com abilidade crítica. Segundo, ensinando a variedade de língua que nenhum de nós fala no dia-a-dia, o registro formal, ou norma culta. Não a falamos não porque somos burros, mas porque a norma culta é uma convenção nada realista, um pedaço morto e congelado de língua necessário para que haja regularidade sobre todo o território onde um idioma é falado. Os desafios são enormes.

Entre os Muros se poupa os trabalhos de apresentar uma linha crítica aberta e de propor soluções ao problema da escola. Apenas tenta mostrar a escola como ela é, propondo, sim, que os desafios que ela enfrenta são semelhantes em qualquer lugar (em nosso país eles chegam a níveis gritantes). Todos já foram alunos, por isso são capazes de contribuir com o debate. Assistam e pensem.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A opulência dos trópicos e dos nórdicos

Em Belo Horizonte, um caminhão carregando quatro vezes mais gado do que deveria é preso após acidente. Como a carga não tivesse licença do Ministério da Saúde, dezenas de bois foram sacrificados. Em Estocolmo, uma espécie não-nativa de coelho é tão bem adaptada que se tornou, por assim dizer, uma praga. Como causam incoveniências ao erário, sujando parques e ameaçando a fauna e flora locais, a prefeitura da capital sueca permite que milhares desses bichos sejam caçados todos os anos. Em 2008 foram 6 mil. O destino final de tantos coelhinhos mortos: o alto forno.

Se você pensou que os suecos estão comendo churrasco de coelho em escala industrial, sua ingenuidade prova que você é um brasileiro acostumado ao sol, à cerveja gelada e à picanha na brasa. No frio das terras nórdicas as necessidades são mais elementares: os coelhos geram energia para esquentar lares suecos. Seus corpos são congelados até atingirem um número alto, depois são esmagados, triturados e levados ao fogo com restos de lixo, pixe e o que mais houver. Sustentabilidade ambiental e algumas famílias aquecidas inverno adentro.

Um holocausto diário? Pense à vontade, pois são ambos problemas extremamente complexos. Enterrar toneladas de lixo no solo, às vezes perto de cursos d`água, me parece até um problema mais sério, mas nos dois casos acima estamos falando de vidas dizimadas com pouca ou nenhuma consideração. O que me assusta é como podemos estar tão confortáveis perante situações assim. Na Suécia, a reação ao uso dos coelhos foi chamada "moderada." Aqui no Brasil, todos sabemos que há muitos fornecedores irregulares de carne abastecendo o mercado com produtos desprovidos de higiene e dignidade, e no entanto a grande maioria de nós sequer se lembra da palavra procedência quando vai às compras. Como diria Hamlet, se tivesse tido a chance de parar por aqui, há mais entre o abatedouro e aquele espetinho do que sonha nossa vã filosofia.

A crueldade com que a vida tem sido tratada é, em grande parte, a forma desumanizadora com que o capitalismo lida com as coisas, à medida que a procura por um produto e a perspectiva de lucro atingem níveis gigantescos. Acontece que não podemos simplesmente culpar o sistema como se estivéssemos fora dele. Nós, também, somos agentes dele e precisamos reavaliar nosso papel. Sei que é difícil, mas precisamos pelo menos refletir se quisermos de fato buscar soluções. Não podemos apenas cobrar de nossos políticos. Temos que nos compremeter e contribuir para melhorar esse mundo fodido.



terça-feira, 13 de outubro de 2009

Broadcast Yourself

Recentemente um dos criadores do youtube esteve no Brasil. Chad Hurley é formado em artes, tem trinta-e-poucos anos, é casado, tem filhos e provavelmente mora numa bela casa no Vale do Silício. Segundo ele, a fortuna ganha na venda de sua cria para a Google não mudou seu estilo de vida, exceto que ele agora pode viajar mais e frequentemente se encontra com os poderosos, tipo o Barack Obama e, é claro, o Pedro do Chip.

Em entrevista à Globo News, Hurley mostrou-se um cara simpático, tranquilo e não diferente de nós mortais. Ele e seus dois parceiros, um dos quais obviamente asiático e encarregado da computaria  pesada, já tinham desenvolvido o sistema PayPal que facilita transações na web. Um belo dia em 2005, os caras quiseram compartilhar seus vídeos caseiros, de farras com amigos, mas não encontraram um meio fácil de fazê-lo. Decidiram, assim, montar um site simples que servisse como um álbum, um espaço onde eu e você pudéssemos publicar nossas próprias aventuras com uma câmera. O resto nós sabemos

Perguntado sobre o que jovens empresários devem fazer para ter sucesso, Hurley respondeu calmamente, com seu jeito de surfista californiano, que eles tinham de "começar de algum lugar." Parece algo muito vago e evasivo prum cara do calibre dele dizer, mas ele elabora mais adiante que o fundamental é fazer algo de que se goste, algo que acrescente à sua pessoa, aos seus amigos, à vida. Algo que gere uma mudança, o que não significa necessáriamente uma mudança do porte da que o youtube causou em nossas vidas. Tudo muito idealista, muito romântico, não? Não!

É claro que para se dar bem em qualquer empreitada é necessário ter alguma noção de quem pode te levar aonde você quer chegar, os chamados figurões, big shots, ou melhor ainda, os movers and shakers. Quem domina bem os ditames do sistema pode conseguir tudo mais fácil, mas o que importa no fritar dos ovos é ter idéias, conteúdo, criatividade. Se você tem uma banda e quer chegar ao estrelato, é melhor fazer contatos logo e se dispor a uma certa quantidade de exploração, mas se não tiver capacidade de compor uns hits ou um conjunto de obra muito bom, não adianta. Se você quer se dar bem no meio acadêmico, precisa dum mentor, mas se não tiver ideias interessantes pra subir nesse seleto meio, o mentor vai te ajudar achando no fundo que você não passa de um aluno mediano. E assim vai em qualquer área.

Isso não é dizer que temos que ser originais ou geniais para ter sucesso, nem que sucesso significa riqueza e fama. Significa que quem acha que ser esperto é o mais importante está tão iludido quanto quem acha que só o talento basta. O sistemas limitam muito a criatividade dos criadores pra nutrir seus interesses próprios, é verdade; mas não nos esqueçamos de que o mundo vive de idéias, às vezes alguma inovação. O segredo por trás do sucesso do youtube não é só o fato de ser baseado no todo-poderoso Vale do Silício e pertencer à Google, mas sim o fato de que seus criadores tiveram uma boa idéia e correram atrás dela com know-how e paixão. Vamos dar crédito pros caras, o Sr. Hurley é um cara bastante bem apessoado que podia simplesmente ter decidido virar modelo de cuecas, mas decidiu usar a cabeça e ser alguém.

Por isso, fellas, broadcast yourselves! Nunca desprezem seu potencial. Corram atrás dos seus projetos com consciência e boa vontade, pois uma idéia é como uma semente: se cair em terreno fértil, vinga.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

I'm in the mood for a dance

Hoje à noite assisti com Alita a Mamma Mia, musical com Meryl Streep, Pierce Brosnan e Colin Firth ao ritmo do ABBA. Como todo musical, este diverte quando não entedia e tem seus momentos constrangedores, quando um ator tenta alcançar uma nota que definitavamente não consegue. O que o faz melhor do que os outros que já vi, além do cenário disarming das ilhas gregas, é obviamente a trilha sonora do velho grupo sueco, ao som do qual até eu! tenho vontade de dançar.

Ouvir uma banda como o ABBA me faz pensar que às vezes o saudosismo é mais do que um sentimento natural do ser humano. Afinal, a qualidade da música pop de hoje nem existe se a compararmos com o que embalou a juvetude dos meus e dos seus pais. Vejam, por exemplo, como bombam as festas Supra Sumo em BH. Diversos artistas atuais já prestaram homenagem ao ABBA, e mesmo que você não goste nem de um nem de outro, isso prova que esse quarteto foi grande. E ainda é. Atualmente há muito pouco ou nada que podemos considerar digno de um cover, excluindo, é claro, a inusitada versão de "Oops I did it again" do Children of Bodom. A não ser que você ache que o Justin Timberlake é fooooda. Me vem à cabeça Alanis Morissette, que fez uma paródia da ridícula "My Humps", do Black-eyed Peas, e conseguiu ser mais ridícula ainda em seu desespero por mostrar como ela é fooooda. Um belo exemplo de tiro pela culatra.

Mesmo sabendo que tudo é cíclico, é difícil prever que a música pop voltará um dia à inocência e bom gosto de outrora, quando melodias bonitas ainda eram bonitas e instrumentos de verdade eram usados pra se compor e tocar as músicas. O pessimismo também é da natureza humana. Mas como o que é bom nunca sai de moda nem perde seu valor, podemos pelo menos manifestar nossa insatisfação com a merda musical generalizada ignorando as rádios e a mtv e acessando o youtube pra ouvir o que realmente nos toca.

domingo, 11 de outubro de 2009

Perderam a vergonha

Sexta-feira 9/10 o Jornal Nacional rodou uma matéria dizendo que os brasileiros classificados negros e pardos estão abandonando a vergonha de se assumirem como tais, principalmente por causa da crescente política de cotas que vem ao seu resgate. Uma entrevistada, que parecia ser líder de algum movimento afro-brasileiro, respondeu que os negros e pardos perderam a vergonha de assumir que têm um avô negro, que têm sangue negro, que têm pele escura. Até aí tudo bem.

Perder a vergonha é muito bom. Ter sangue negro não é nenhum problema, pele escura sofre menos com o sol. Há que se orgulhar de ter raízes africanas. Mas dizer que a mudança está acontecendo estimulada por conveniência e interesse é embaraçosamente ambíguo: perderam a vergonha em que sentido, na cor ou na cara?

Mais cuidado, gente, que o assunto é delicadíssimo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Se um dia chuvoso na cidade fosse só isso


Grão da vida

A soja (Glycine max) é originária do extremo oriente. Sua importância na subsistência dos povos daquela região é imemorial. O nome vem do chinês jiàng yóu, que em japonês virou shōyu, que finalmente deu as pronúncias européias. Rica em proteína, dela se fazem vários pratos diferentes, alguns dos quais conhecemos, como o insosso tofu, o azedo natto e a sopa feita com pasta miso (leia este interessante verbete sobre gosto adquirido).

Hoje a soja atende a inúmeras demandas do mercado alimentício e até doutros, sendo especialmente apreciada pelos vegetarianos, que, graças a ela, podem degustar sem culpa sanduíches, lasanhas, strogonoffs, pasteis e até mesmo cachorros quentes. Sim! há salsichas de soja, não muito eficientes no quesito sabor, mas muito no quesito aparência e textura. Além desses itens paliativos para vegetarianos, o leite de soja nutre indivíduos com a incoveniente intolerância a lactose. De preferência não processada, comer soja ajuda mulheres a amenizar os efeitos da menopausa, a chamada reposição hormonal. Por fim, não podemos esquecer o trivialíssimo óleo de soja, sem o qual teríamos de pagar mais caro pelo óleo de milho ou girassol para cozinhar nosso arrozinho. No mundo globalizado, a soja figura entre as commodities mais importantes, constituindo um exemplo singular: os maiores produtores são os gigantes do Novo Mundo, Estados Unidos e Brasil respectivamente, de quem a própria China compra navios e navios do seu precioso e nativo frumento.

Apesar de todos os benefícios listados acima, o grão tem sido relacionado a alguns problemas ambientais e éticos ultimamente. Para aumentar sua produção, foram desenvolvidas variedades trans, o que suscita questionamentos quanto ao direito do homem de interferir tão intrinsecamente nos meios da natureza. Mais urgentemente, a soja tem causado a destruição de muita mata nativa, o que põe em cheque outra idéia, a de que o futuro está nos biocombustíveis. Nada é tão simples assim.

No país, fala-se da fronteira da soja, que engloba os longínquos Mato Grosso, Amazonas e Rondônia, entre outros, e de como essa "praga" está condenando a floresta tropical. Alguns parecem esquecer que a soja vem varrendo largas extensões do nosso cerrado e já bate a nossas portas. É o caso do Triângulo Mineiro, onde, em Uberaba, um homem morreu terça-feira 7 esmagado por nada menos que 12 toneladas de soja.

A princípio um acidente de trabalho, uma fatalidade lamentável. No meu modo de ver, uma brincadeira lamentável. É difícil imaginar a situação com exatidão: o rapaz dava manutenção nas máquinas quando escorregou pra dentro dum dos funis escoadores. De qualquer forma, meter-se em 12 ton. de grãos confinados num galpão sem os devidos cuidados é querer demais, é como querer escalar a paredes de Itaipu, em pleno funcionamento, para pegar uma balde d'água ou dois. Ou mesmo entrar numa jaula com um tigre faminto e achar que ainda vai dar um jeito nele só com as mãos nuas. Com tantas notícias sobre tufões, tsunamis, enchentes etc. ilustrando a força avassaladora da natureza sobre nós, um bando de homens descuidados acha que "manjar" (palavra do pai da vítima) é o bastante.

Imaginem a pressão de toneladas. Os bombeiros gastaram 18 horas pra resgatar o corpo. Foi preciso usar galões de oxigênio para mergulhar nas profundezas de grãos.

Tanto trabalho pra dar fins os mais diversos à soja, tão pouco pra garantir que uma pessoa não saia morta de sua parte na logística da coisa. Um sacrifício pelo nosso hamburger, pelo nosso leite, pelo nosso óleo, pela colheita abundante. Assim se perpetua a vida.

http://www.socbrasileiradegeografia.com.br/revista_sbg/carlos%20a%20f%20silva.html

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Natureza surpreendente


Recentemente um beija-flor chocou e criou sua prole de 2 beija-floresinhos numa modesta árvore de vaso no hall do prédio da Alita, ao alcance geral. Não sei se essa dona beija-flor foi calculista em sua ousadia ou muito sortuda em sua necessidade. Acho que foi esperta, pois talvez noutro lugar ela tivesse tido mais risco, afinal no prédio ela estava relativamente protegida pelas paredes da civilização, cheio de velhinhas suspirosas de ver que essas coisas acontecem em seus bairros.

Por uns dias Alita e eu pudemos acompanhar o crescimento desses bichinhos, foi muito legal. Lá estavam os dois, magicamente comportados num ninho tão pequeno, as cabeças espichadas pra fora como que esperando mamãe chegar com o rango. De repente, havia só um. Mais um pouco e o outro também zarpou, deixando o ninho, aquela modesta mas belíssima construção por um ser tão pequeno, vago. Quando vimos, lá estavam os dois voando ao redor da árvore em frente a nossa janela, dois pontinos pretos apressados sob a supervisão duma tranquila genitora.

É a improbabilidade que faz isso tudo mais saboroso. Bravo, mãe natureza!

Tinha que ser ele outra vez



Longevidade é sinal de qualidade?

Chaves já é um assunto mais do que batido e desbotado. E, no entanto, continua vivo em nossas vidas, ainda que seja apenas quando zapeamos do SBT para a Band ou TV! com uma cara de "Puts, Chaves até hoje?!" Depois de todos esses anos, quem dizia que só há duas coisas certas na vida pode acrescentar mais uma: impostos, a morte e... Chaves.

De LPs, canudinhos em forma de óculos (quem ainda tem essa jóia?), camisas com o rosto do Seu Madruga e recentemente a visita de Vesgo e Silvio ao ator de Quico, homenagens variadas já foram prestadas ao "Chavinho" e seus vizinhos. Venho me render a este eterno seriado depois de ver esta criativa montagem ao lado, que a Alita me mostrou e está no blog Buteco da Net. Uma prova de que, batido ou não, Chaves continua firme e forte e se reiventando.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Música & Meditação

Como a música clássica é relaxante...

Experimente chegar em casa à noite, sentar-se em frente ao seu pc e browsear despreocupadamente enquanto ouve Orfeu e Eurídice, de Christoph Gluck. Os timbres do violino e flauta em movimentos suaves vão tocar o fundo da sua alma, acalmando sua mente a tal ponto que você só não vai adormecer porque vai querer continuar ouvindo. Muito bom.

Ouvir músicas calmas, como o clássico ou o New Age, é uma ótima forma de meditação, principalmente para aqueles de nós cujas abilidades de concentração não são tão avançadas a ponto de nos permitir focar apenas na respiração ou num objeto em nossa frente, como fazem os budistas. Ouvindo música você pode esvaziar totalmente sua mente enquanto tenta focar-se num único instrumento por vez: ora o violino, ora a flauta, ora o baixo, ora a bateria, o que for. Os resultados positivos surgem tanto imediatamente quanto a longo prazo: você descança e desenvolve seu senso estético.

Boa meditação!

domingo, 27 de setembro de 2009

Não tem o que fazer? Faça mestrado!


Ando na correria pra passar no mestrado. Sexta última entreguei meu pré-projeto - o que seria o projeto??? - no último minuto da última hora; quase não consegui, graças ao puro descuido de não ter providenciado uma cópia da minha CDI. Marta e Winie me salvaram me mandando-o via fax. Sou eternamente grato às duas. E a Alita foi quem deu a idéia do fax ou scan, que eu na hora nem sei se teria pensado nisso. Aquele foi um dos momentos mais tensos da minha vida, mais ainda que ter chegado a Detroit sem mala e achar que não conseguiria recuperá-la jamais. Só pra constar, na UFMG paga-se um total $90 de inscrição na pós-graduação enquanto que a Unicamp, por exemplo, não cobra inscrição, pois eles são espertos e conseguem mais verba do governo fingindo que produzem mais do que realmente produzem, um belo trabalho de maquiagem.

Meu mestrado será em literatura de expressão inglesa e a linha de pesquisa, se tudo der certo, Literatura, História e Memória Cultural. Vou tratar da literatura nipo-americana, escritores americanos e canadenses de origem japonesa. Esta literatura retrata a vida dos imigrantes nos EUA e Canadá, mas basicamente gira em torno do encarceramento dos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, quando mais
de 120.000 pessoas foram arrancadas de seus lares e empregos e levados para campos de concentração - ou, se preferirem, relocation centers - onde permanceram até o Japão ser derrotado e a guerra encerrada. Nenhuma evidência de risco nacional foi encontrada previamente à decisão, mas os governos dos dois países prenderam toda a comunidade nipônica para "anular a chance do yellow peril," além do que a medida proporcionava uma boa oportunidade para "estudarem o inimigo." Foram rapidamente erguidos dez campos de concentração, dotados de mínimo conforto para os alojados, nos estados da da Califórina, Arizona e Idaho, entre outros, e lá os nipo-americanos viveram por uns 3 anos, um bode espiatório nacional por serem racial e culturamente diferentes, mais fechados que outros imigrantes "étnicos" e por se darem bem economicamente dum jeito ou doutro, sempre plantando, com admirável afinco, suas hortaliças e frutas.

Dentre outras coisas, pode-se analisar como esta literatura retrata a experiência do encarceramento e a reabilitação pós-guerra destas pessoas, questões como racismo, direitos humanos, como a política se permite distorcer o que é considerado certo ou errado para atender a seus propósitos, o lugar de minorias étnicas nas sociedades ocidentais e, mais importante, o lugar da literatura na construção da memória e consciência históricas.

Há obras de valor que merecem serem lidas e estudadas neste pequeno nicho, com o qual lidarei agora pelos próximos dois anos.

A bela foto acima foi tirada no campo de Manzanar, Califórnia, provavelmente entre 1943 e 45.

domingo, 13 de setembro de 2009

Porque não o Paulo Baier?

O Galo contratou gente pra dedéu este ano. Naturalmente, são na maioria acréscimos modestos em termos de valor, status e qualidade. Se a questão é essa, por que o Atlético nunca contratou o armador Paulo Baier? Atualmente no rubro-negro paranaense, que hoje vencemos no Mineirão, o homem nunca foi estrela, já passou dos 30, o que ajuda a segurar o valor do seu passe, e nos últimos anos jogou em times fora do eixo RJ-SP. Ele é bom: cobra faltas muito bem e faz gols; hoje mesmo serviu a bola do gol do furacão e quase arruinou a alegria da massa noutros momentos da partida (veja o compacto, http://www.superesportes.com.br/ed_esportes/002/template_esportes_002_134341.shtml).

O cara é bom ou eu não sei porra nenhuma de futebol! Em vez de insistir em veteranos como o Marquez, de quem é injusto cobrar mais, ou mesmo apostar em obscuridades que torram a paciência da sofrida massa, por que o Galo nunca contratou o meu xará teuto-tupiniquim? Pra que resgatar Ricardinho, de quem não se tem notícia há tempos (benvindo assim mesmo), se o Paulo Baier continua mostrando, aqui no Brasil, que é digno?

Pô, Ziza!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

BBC Coast - a arte do documentário


Devo dizer que sou fã da BBC. A rádio dispensa comentários. Tem notícias em várias línguas, entretenimento de altíssima qualidade (o show de sextas-feiras do Bruce!), esporte, cultura (teatro, poesia e música) e até uma sessão para aprender inglês muito boa. Houve até o caso mostrado no Globo Repórter dum menino em Pernambuco que aprendeu inglês apenas ouvindo a BBC, que o potente rádio dele conseguia sintonizar daqui dos trópicos. É, não se fazem mais rádios como antigamente. Agora o lucky bastard deve falar inglês melhor que 70% da população do Reino Unido.

Se há algo da British Broadcasting Corporation que não me toca muito é o portal de notícias que pegamos na TV a cabo, pois só dá Oriente Médio, e nós temos mais do que lembrar. Bons mesmo são os documentários - a Globo que o diga. Entre esses está aquele que só recentemte descobri: Coast, ou, literalmente, costa. Embora o nome possa sugerir algo pouco interessante, esta série foi aclamada pela crítica e agora está, como fazem os desbravadores dos mares, içando velas rumo a praias estrangeiras para descobrir o que fez da Grã-Bretanha o grande império ultramarino que ela foi. Até onde sei, a próxima parada é a Noruega dos fjords e dos temíveis marinheiros Vikings.

Talvez você não se interesse em saber sobre o legado costeiro da Grã-Bretanha, em cujo caso não o julgo. Mas, em último caso, não há como negar que Coast faz aquilo que todo bom documentário deve fazer: te arrebata, magicamente planta a semente do interesse em você, fazendo um assunto antes indiferente se tornar intrigante. Um bom documentário faz você querer fazer um documentário, porque qualquer coisa pode render um, desde que você deixe bem claro seu propósito, ou seja, o porquê de fazer um documentário sobre determinado tema. A essência por trás disso não é única da arte de se fazer documentários, afinal, se você vai fazer uma apresentação na faculdade, vai escrever um poema sobre o pulo do gato, ou vai contar uma piada, não pode simplesmente presumir que seu tema é do interesse do ouvinte; mesmo que seja, tem de usar um pouco de retórica para polir a maçã, dourar a pílula, gratinar a torta, enfim, você entendeu...

Com no máximo 60 minutos, cada episódio de Coast se concentra num determinado trecho de costa, por exemplo, de Cork a Dublin, geralmente uma distância não maior que 300 quilômetros. Para abrir o território a várias dimensões, o foco se desdobra em no mínimo três frentes, todas a cargo de pessoal qualificado. O geógrafo e andarilho inveterado Nicholas Crane nos apresenta a cor local de cada trecho, as paisagens e os moradores locais. O historiador/arqueólogo Neil Oliver (sujeito carismático!) se encarrega de desenterrar as estórias humanas que marcaram os lugares. A antropóloga Alice Roberts cuida da geologia, sujando as mãos para mostrar do que é feito o chão que pisam os britânicos. Miranda Krestovnikof, zoóloga, mergulha para explorar as águas costeiras. Mark Horton cuida da geologia marítima e o bigodudo engenheiro Dick Strawbridge (nome curioso) das marcas sólidas que o homem deixou e deixa na paisagem natural tortuosa da costa britânica.

É fascinante aprender como os homens são ao mesmo tempo tão grandes e pequenos onde a terra encontra o mar. Por um lado, domamos a natureza construindo portos e navios que servem às nossas necessidades. Por outro, um tsunami pode destruir tudo em questão de minutos. Menos catastroficamente, todos os anos o mar consome uns poucos centímetros de costa, de modo que todo o esforço de engenharia pode ir por água abaixo, literalmente, se a terra onde pisamos não para de recuar. As ondas podem ser ao mesmo tempo uma benção e uma maldição. Morando em locais assim, seja no UK ou em qualquer lugar do mundo, me parece que a solidez de nossos bairros, ruas asfaltadas e casas de tijolos se torna muito frágil diante das forças selvagens da Terra. Especialmente em tempos de aquecimento global.

Infelizmente, Coast não parece estar disponível em português (falo sem certeza absoluta). Talvez alguma boa alma com tempo de sobra legende os episódios e os ponha para baixar na net. Até lá, se nenhum outro recurso couber, delicie-se com as imagens, que, como dizem, valem por mil palavras.

http://www.youtube.com/watch?v=F5JQ3oA9r1c

Nas entrelinhas dos Beatles

Beatlemaníacos, tremei! O momento é auspicioso para o legado dos lendários ingleses. O falecimento inesperado de Michael Jackson teve, lá, seu lado benéfico, por assim dizer: o quarteto está de volta ao menu da famélica indústria do showbizz. Não só EMI e Apple Corps já anunciaram lançamento da discografia remasterizada dos Beatles, no que aproveitaram para agregar mais valor ao produto recheando-o com uma série de treats, incluindo arte original, libretos com fotos raras, vídeos e making-of (tudo disponível num box), como também, na febre do Guitar Hero, um jogo/simulador já está à venda para quem quiser se sentir um Lennon ou um McCartney no conforto de sua sala de TV. Aposentem o chuveiro, senhoras e senhores.

Mas quem diria que os rapazes de Liverpool, com seus terninhos bem cortados, franjas meticulosamente aparadas e sorrisos de dar inveja a qualquer inglês, também empregaram seus instrumentos fálicos (as canetas, leitor!), à serviço da famigerada prática roqueira das mensagens subliminares? Talvez seja um overstatement dizer que são mensagens subliminares. São apenas as sutilezas malandras da língua, nada que outras bandas não tenham posto em prática a esmo. Pensem, por exemplo, no auto explicativo FUCK, do Van Halen, sigla para For Unlawful Carnal Knowledge, em outras palavras, uma apologia do sexo pré-matrimônio ou mesmo do adultério, atos que se resumem na própria sigla/palavra que entitula este mui excelente disco. Como diria meu amigo Daniel, é FODA quando uma banda sabe usar a ambiguidade para falar de sexo.

Voltando aos Beatles, há pelo menos duas canções das mais famosas contendo sexual innuendoes. A primeira é "Hard Day's Night," em que o homem diz que não se importa de ralar feito um cão pra trazer grana pra sua mulher,
                       So why on earth should I moan
                       cause when I get you alone
                       you make me feel alright
E notei que na versão que consta da antologia, diferente da do disco homônimo, John canta discretamente all through the night, yeah. Um hino bitouístico ao homem comum, que rala de segunda a sexta e não pede nada mais do que uma mulher pra cozinhar sua comida, lavar sua roupa e aliviar seu stress à noite.

O segundo exemplo também é dos bons. Que melhor jeito do cara dizer que ele ofereceu e ela não quis do que dizer que ele ofereceu à malvada um ticket pra passear com ele (to ride, que no caso das mulheres significa aquilo mesmo) e ela o ignorou categoricamente, deixando o loser que vos fala (o da música!) a chupar dedo? É música de loser, mesmo, mas tão sutilmente fraseada que só com muita atenção e sabendo os sentidos do verbo to ride que o ouvinte consegue captar. Quem duvida, cheque o verbete do Wikipedia abaixo
http://en.wikipedia.org/wiki/Ticket_to_Ride

E ouça as canções. Talvez duma perspectiva diferente desta vez.
http://www.youtube.com/watch?v=PlDdcCzKjsc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=xn_kNeorDSk

Poema I

Aí vai um poeminha de minha autoria. É basicamente sobre ficar revoltado comigo mesmo por ficar sentado em frente ao computador horas enquanto o mundo gira. A solução seria poder gozar o ócio sem culpa ou então fazer dele um produto satisfatório, algo digno do tempo ali gasto.

Viver não é desafio

pros não notáveis na bravura

pra quem é médio em ser audaz

tudo é mais simples, prazeroso.


Cada momento é mais intenso,

carpe diem não só um lema.

Não há garotas que curtam mais,

nem monges que enxerguem mais,

nem há cachorros mais satisfeitos,

pois tudo é pleno e claro e vívido.


Sentado em assento duro

numa célula de conexão –

ou claustro de liberdade –

janelas me oferecem os triunfos

de quem excede e de quem transgride,

corrompe e inventa;

labaredas de um mundo em combustão.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Prefácio

Caro leitor! É fascinante como uma frase de meras duas palavras, mais um ponto de exclamação, tem o poder instantâneo de estabelecer um vínculo entre pessoas! É o poder da palavra no próprio ato de locução. Há que ter muito cuidado com elas.

Estou inaugurando meu blog e deixo claro, logo no princípio, que meu propósito maior aqui é senão escrever por escrever, dar minha forma ao conteúdo do mundo, arriscar-me sem esperança de êxito a cortejar "a última flor do Lácio," já que minha profissão me leva a ter mais lida diária com a prima rude da Britannia. Escreverei daquilo que entendo e tentarei, com muito esmero, instruir e entreter meu leitorado.

O ser humano tem a necessidade inerente de se comunicar. Sempre foi assim, mas me parece que nesta nossa era da comunicação - ou será informação? - , em que tudo e todos são facilmente acessíveis, a velha necessidade se reconfigurou um pouco, pois, ao contrário de antigamente, quando a distância física era um fato irreversível senão apenas através de meios paliativos como as cartas, hoje a tecnologia nos permite ter quem quisermos de prontidão a qualquer minuto; seja na internet ou no celular, é muito fácil e temos direito a filmagem em tempo real. Isso nos faz ter a sensação de que os outros estão sempre por perto, mas, por outro lado, por essas pessoas estarem fisicamente distantes e cuidando de suas vidas, sentimos que a conexão proporcionada pela fibra ótica ou pelo sinal é, na verdade, tênue. Precisamos de mais. Precisamos realizar essa constante disponibilidade através de palavras. Afinal, não bastaria estar cercado de boa companhia, os melhores amigos que alguém pode desejar, se não concretizássemos a amizade com conversa, troca de experiências, diversão e lágrimas.

É aí, penso eu, que vem os blogs, espaços versáteis e ricos em possibilidades, ilhas de auto-afirmação no vasto mar cibernético, portos seguros onde o navegador pode ancourar com a certeza de encontar rostos familiares. Há inclusive os que se aproveitam para alugar seu ciberespaço pessoal em troca duma grana. Blogs podem ser pontos de encontro assim como são os bares e cafés, com a grande diferença de que não pagamos para saborear o menu. Por que pagaríamos?

Mas não é este o meu desejo aqui. Se por acaso já me delongo, lembre-se do que eu disse acima.

E não se esqueça do poder das palavras.