quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Música & Meditação

Como a música clássica é relaxante...

Experimente chegar em casa à noite, sentar-se em frente ao seu pc e browsear despreocupadamente enquanto ouve Orfeu e Eurídice, de Christoph Gluck. Os timbres do violino e flauta em movimentos suaves vão tocar o fundo da sua alma, acalmando sua mente a tal ponto que você só não vai adormecer porque vai querer continuar ouvindo. Muito bom.

Ouvir músicas calmas, como o clássico ou o New Age, é uma ótima forma de meditação, principalmente para aqueles de nós cujas abilidades de concentração não são tão avançadas a ponto de nos permitir focar apenas na respiração ou num objeto em nossa frente, como fazem os budistas. Ouvindo música você pode esvaziar totalmente sua mente enquanto tenta focar-se num único instrumento por vez: ora o violino, ora a flauta, ora o baixo, ora a bateria, o que for. Os resultados positivos surgem tanto imediatamente quanto a longo prazo: você descança e desenvolve seu senso estético.

Boa meditação!

domingo, 27 de setembro de 2009

Não tem o que fazer? Faça mestrado!


Ando na correria pra passar no mestrado. Sexta última entreguei meu pré-projeto - o que seria o projeto??? - no último minuto da última hora; quase não consegui, graças ao puro descuido de não ter providenciado uma cópia da minha CDI. Marta e Winie me salvaram me mandando-o via fax. Sou eternamente grato às duas. E a Alita foi quem deu a idéia do fax ou scan, que eu na hora nem sei se teria pensado nisso. Aquele foi um dos momentos mais tensos da minha vida, mais ainda que ter chegado a Detroit sem mala e achar que não conseguiria recuperá-la jamais. Só pra constar, na UFMG paga-se um total $90 de inscrição na pós-graduação enquanto que a Unicamp, por exemplo, não cobra inscrição, pois eles são espertos e conseguem mais verba do governo fingindo que produzem mais do que realmente produzem, um belo trabalho de maquiagem.

Meu mestrado será em literatura de expressão inglesa e a linha de pesquisa, se tudo der certo, Literatura, História e Memória Cultural. Vou tratar da literatura nipo-americana, escritores americanos e canadenses de origem japonesa. Esta literatura retrata a vida dos imigrantes nos EUA e Canadá, mas basicamente gira em torno do encarceramento dos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, quando mais
de 120.000 pessoas foram arrancadas de seus lares e empregos e levados para campos de concentração - ou, se preferirem, relocation centers - onde permanceram até o Japão ser derrotado e a guerra encerrada. Nenhuma evidência de risco nacional foi encontrada previamente à decisão, mas os governos dos dois países prenderam toda a comunidade nipônica para "anular a chance do yellow peril," além do que a medida proporcionava uma boa oportunidade para "estudarem o inimigo." Foram rapidamente erguidos dez campos de concentração, dotados de mínimo conforto para os alojados, nos estados da da Califórina, Arizona e Idaho, entre outros, e lá os nipo-americanos viveram por uns 3 anos, um bode espiatório nacional por serem racial e culturamente diferentes, mais fechados que outros imigrantes "étnicos" e por se darem bem economicamente dum jeito ou doutro, sempre plantando, com admirável afinco, suas hortaliças e frutas.

Dentre outras coisas, pode-se analisar como esta literatura retrata a experiência do encarceramento e a reabilitação pós-guerra destas pessoas, questões como racismo, direitos humanos, como a política se permite distorcer o que é considerado certo ou errado para atender a seus propósitos, o lugar de minorias étnicas nas sociedades ocidentais e, mais importante, o lugar da literatura na construção da memória e consciência históricas.

Há obras de valor que merecem serem lidas e estudadas neste pequeno nicho, com o qual lidarei agora pelos próximos dois anos.

A bela foto acima foi tirada no campo de Manzanar, Califórnia, provavelmente entre 1943 e 45.

domingo, 13 de setembro de 2009

Porque não o Paulo Baier?

O Galo contratou gente pra dedéu este ano. Naturalmente, são na maioria acréscimos modestos em termos de valor, status e qualidade. Se a questão é essa, por que o Atlético nunca contratou o armador Paulo Baier? Atualmente no rubro-negro paranaense, que hoje vencemos no Mineirão, o homem nunca foi estrela, já passou dos 30, o que ajuda a segurar o valor do seu passe, e nos últimos anos jogou em times fora do eixo RJ-SP. Ele é bom: cobra faltas muito bem e faz gols; hoje mesmo serviu a bola do gol do furacão e quase arruinou a alegria da massa noutros momentos da partida (veja o compacto, http://www.superesportes.com.br/ed_esportes/002/template_esportes_002_134341.shtml).

O cara é bom ou eu não sei porra nenhuma de futebol! Em vez de insistir em veteranos como o Marquez, de quem é injusto cobrar mais, ou mesmo apostar em obscuridades que torram a paciência da sofrida massa, por que o Galo nunca contratou o meu xará teuto-tupiniquim? Pra que resgatar Ricardinho, de quem não se tem notícia há tempos (benvindo assim mesmo), se o Paulo Baier continua mostrando, aqui no Brasil, que é digno?

Pô, Ziza!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

BBC Coast - a arte do documentário


Devo dizer que sou fã da BBC. A rádio dispensa comentários. Tem notícias em várias línguas, entretenimento de altíssima qualidade (o show de sextas-feiras do Bruce!), esporte, cultura (teatro, poesia e música) e até uma sessão para aprender inglês muito boa. Houve até o caso mostrado no Globo Repórter dum menino em Pernambuco que aprendeu inglês apenas ouvindo a BBC, que o potente rádio dele conseguia sintonizar daqui dos trópicos. É, não se fazem mais rádios como antigamente. Agora o lucky bastard deve falar inglês melhor que 70% da população do Reino Unido.

Se há algo da British Broadcasting Corporation que não me toca muito é o portal de notícias que pegamos na TV a cabo, pois só dá Oriente Médio, e nós temos mais do que lembrar. Bons mesmo são os documentários - a Globo que o diga. Entre esses está aquele que só recentemte descobri: Coast, ou, literalmente, costa. Embora o nome possa sugerir algo pouco interessante, esta série foi aclamada pela crítica e agora está, como fazem os desbravadores dos mares, içando velas rumo a praias estrangeiras para descobrir o que fez da Grã-Bretanha o grande império ultramarino que ela foi. Até onde sei, a próxima parada é a Noruega dos fjords e dos temíveis marinheiros Vikings.

Talvez você não se interesse em saber sobre o legado costeiro da Grã-Bretanha, em cujo caso não o julgo. Mas, em último caso, não há como negar que Coast faz aquilo que todo bom documentário deve fazer: te arrebata, magicamente planta a semente do interesse em você, fazendo um assunto antes indiferente se tornar intrigante. Um bom documentário faz você querer fazer um documentário, porque qualquer coisa pode render um, desde que você deixe bem claro seu propósito, ou seja, o porquê de fazer um documentário sobre determinado tema. A essência por trás disso não é única da arte de se fazer documentários, afinal, se você vai fazer uma apresentação na faculdade, vai escrever um poema sobre o pulo do gato, ou vai contar uma piada, não pode simplesmente presumir que seu tema é do interesse do ouvinte; mesmo que seja, tem de usar um pouco de retórica para polir a maçã, dourar a pílula, gratinar a torta, enfim, você entendeu...

Com no máximo 60 minutos, cada episódio de Coast se concentra num determinado trecho de costa, por exemplo, de Cork a Dublin, geralmente uma distância não maior que 300 quilômetros. Para abrir o território a várias dimensões, o foco se desdobra em no mínimo três frentes, todas a cargo de pessoal qualificado. O geógrafo e andarilho inveterado Nicholas Crane nos apresenta a cor local de cada trecho, as paisagens e os moradores locais. O historiador/arqueólogo Neil Oliver (sujeito carismático!) se encarrega de desenterrar as estórias humanas que marcaram os lugares. A antropóloga Alice Roberts cuida da geologia, sujando as mãos para mostrar do que é feito o chão que pisam os britânicos. Miranda Krestovnikof, zoóloga, mergulha para explorar as águas costeiras. Mark Horton cuida da geologia marítima e o bigodudo engenheiro Dick Strawbridge (nome curioso) das marcas sólidas que o homem deixou e deixa na paisagem natural tortuosa da costa britânica.

É fascinante aprender como os homens são ao mesmo tempo tão grandes e pequenos onde a terra encontra o mar. Por um lado, domamos a natureza construindo portos e navios que servem às nossas necessidades. Por outro, um tsunami pode destruir tudo em questão de minutos. Menos catastroficamente, todos os anos o mar consome uns poucos centímetros de costa, de modo que todo o esforço de engenharia pode ir por água abaixo, literalmente, se a terra onde pisamos não para de recuar. As ondas podem ser ao mesmo tempo uma benção e uma maldição. Morando em locais assim, seja no UK ou em qualquer lugar do mundo, me parece que a solidez de nossos bairros, ruas asfaltadas e casas de tijolos se torna muito frágil diante das forças selvagens da Terra. Especialmente em tempos de aquecimento global.

Infelizmente, Coast não parece estar disponível em português (falo sem certeza absoluta). Talvez alguma boa alma com tempo de sobra legende os episódios e os ponha para baixar na net. Até lá, se nenhum outro recurso couber, delicie-se com as imagens, que, como dizem, valem por mil palavras.

http://www.youtube.com/watch?v=F5JQ3oA9r1c

Nas entrelinhas dos Beatles

Beatlemaníacos, tremei! O momento é auspicioso para o legado dos lendários ingleses. O falecimento inesperado de Michael Jackson teve, lá, seu lado benéfico, por assim dizer: o quarteto está de volta ao menu da famélica indústria do showbizz. Não só EMI e Apple Corps já anunciaram lançamento da discografia remasterizada dos Beatles, no que aproveitaram para agregar mais valor ao produto recheando-o com uma série de treats, incluindo arte original, libretos com fotos raras, vídeos e making-of (tudo disponível num box), como também, na febre do Guitar Hero, um jogo/simulador já está à venda para quem quiser se sentir um Lennon ou um McCartney no conforto de sua sala de TV. Aposentem o chuveiro, senhoras e senhores.

Mas quem diria que os rapazes de Liverpool, com seus terninhos bem cortados, franjas meticulosamente aparadas e sorrisos de dar inveja a qualquer inglês, também empregaram seus instrumentos fálicos (as canetas, leitor!), à serviço da famigerada prática roqueira das mensagens subliminares? Talvez seja um overstatement dizer que são mensagens subliminares. São apenas as sutilezas malandras da língua, nada que outras bandas não tenham posto em prática a esmo. Pensem, por exemplo, no auto explicativo FUCK, do Van Halen, sigla para For Unlawful Carnal Knowledge, em outras palavras, uma apologia do sexo pré-matrimônio ou mesmo do adultério, atos que se resumem na própria sigla/palavra que entitula este mui excelente disco. Como diria meu amigo Daniel, é FODA quando uma banda sabe usar a ambiguidade para falar de sexo.

Voltando aos Beatles, há pelo menos duas canções das mais famosas contendo sexual innuendoes. A primeira é "Hard Day's Night," em que o homem diz que não se importa de ralar feito um cão pra trazer grana pra sua mulher,
                       So why on earth should I moan
                       cause when I get you alone
                       you make me feel alright
E notei que na versão que consta da antologia, diferente da do disco homônimo, John canta discretamente all through the night, yeah. Um hino bitouístico ao homem comum, que rala de segunda a sexta e não pede nada mais do que uma mulher pra cozinhar sua comida, lavar sua roupa e aliviar seu stress à noite.

O segundo exemplo também é dos bons. Que melhor jeito do cara dizer que ele ofereceu e ela não quis do que dizer que ele ofereceu à malvada um ticket pra passear com ele (to ride, que no caso das mulheres significa aquilo mesmo) e ela o ignorou categoricamente, deixando o loser que vos fala (o da música!) a chupar dedo? É música de loser, mesmo, mas tão sutilmente fraseada que só com muita atenção e sabendo os sentidos do verbo to ride que o ouvinte consegue captar. Quem duvida, cheque o verbete do Wikipedia abaixo
http://en.wikipedia.org/wiki/Ticket_to_Ride

E ouça as canções. Talvez duma perspectiva diferente desta vez.
http://www.youtube.com/watch?v=PlDdcCzKjsc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=xn_kNeorDSk

Poema I

Aí vai um poeminha de minha autoria. É basicamente sobre ficar revoltado comigo mesmo por ficar sentado em frente ao computador horas enquanto o mundo gira. A solução seria poder gozar o ócio sem culpa ou então fazer dele um produto satisfatório, algo digno do tempo ali gasto.

Viver não é desafio

pros não notáveis na bravura

pra quem é médio em ser audaz

tudo é mais simples, prazeroso.


Cada momento é mais intenso,

carpe diem não só um lema.

Não há garotas que curtam mais,

nem monges que enxerguem mais,

nem há cachorros mais satisfeitos,

pois tudo é pleno e claro e vívido.


Sentado em assento duro

numa célula de conexão –

ou claustro de liberdade –

janelas me oferecem os triunfos

de quem excede e de quem transgride,

corrompe e inventa;

labaredas de um mundo em combustão.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Prefácio

Caro leitor! É fascinante como uma frase de meras duas palavras, mais um ponto de exclamação, tem o poder instantâneo de estabelecer um vínculo entre pessoas! É o poder da palavra no próprio ato de locução. Há que ter muito cuidado com elas.

Estou inaugurando meu blog e deixo claro, logo no princípio, que meu propósito maior aqui é senão escrever por escrever, dar minha forma ao conteúdo do mundo, arriscar-me sem esperança de êxito a cortejar "a última flor do Lácio," já que minha profissão me leva a ter mais lida diária com a prima rude da Britannia. Escreverei daquilo que entendo e tentarei, com muito esmero, instruir e entreter meu leitorado.

O ser humano tem a necessidade inerente de se comunicar. Sempre foi assim, mas me parece que nesta nossa era da comunicação - ou será informação? - , em que tudo e todos são facilmente acessíveis, a velha necessidade se reconfigurou um pouco, pois, ao contrário de antigamente, quando a distância física era um fato irreversível senão apenas através de meios paliativos como as cartas, hoje a tecnologia nos permite ter quem quisermos de prontidão a qualquer minuto; seja na internet ou no celular, é muito fácil e temos direito a filmagem em tempo real. Isso nos faz ter a sensação de que os outros estão sempre por perto, mas, por outro lado, por essas pessoas estarem fisicamente distantes e cuidando de suas vidas, sentimos que a conexão proporcionada pela fibra ótica ou pelo sinal é, na verdade, tênue. Precisamos de mais. Precisamos realizar essa constante disponibilidade através de palavras. Afinal, não bastaria estar cercado de boa companhia, os melhores amigos que alguém pode desejar, se não concretizássemos a amizade com conversa, troca de experiências, diversão e lágrimas.

É aí, penso eu, que vem os blogs, espaços versáteis e ricos em possibilidades, ilhas de auto-afirmação no vasto mar cibernético, portos seguros onde o navegador pode ancourar com a certeza de encontar rostos familiares. Há inclusive os que se aproveitam para alugar seu ciberespaço pessoal em troca duma grana. Blogs podem ser pontos de encontro assim como são os bares e cafés, com a grande diferença de que não pagamos para saborear o menu. Por que pagaríamos?

Mas não é este o meu desejo aqui. Se por acaso já me delongo, lembre-se do que eu disse acima.

E não se esqueça do poder das palavras.