sábado, 31 de outubro de 2009

... não desiste nunca

A Polícia Federal montou operação neste feriado pra tentar diminuir o grande número de mortes em nossas estradas.

O nome da operação: Finados.

Isso é que é otimismo!

RIP
no feriado

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ressurgirá das cinzas

Como testemunhei no meu outro blog há quase um ano, quando estava nos EUA, o duplo mote da cidade de Detroit é, em Latim, esperamos dias melhores e ressurgirá das cinzas. As frases não se referem à presente conjuntura de Motown, que continua digna de sua bandeira, mas a um passado distante, quando um incêndio, daqueles de botar inveja no insano Nero, arrasou com a cidade.

Mas estou aqui pra falar do Rio, que pode fazer das de Detroit suas próprias esperanças. Outro dia vimos o confronto entre polícia e traficantes ceifar a vida de dois PMs que sobrevoavam uma favela no complexo do Alemão. Do alto de suas citadelas fortificadas, os bandidos alvejaram um helicóptero levando três homens, que logo pegou fogo e iniciou queda livre. Heroicamente, o piloto conseguiu pousar a máquina em chamas e salvar-se, mas seus dois companheiros não tiveram a mesma sorte. O nome da nave: Fênix II. Dramaticamente irônico esse episódio, pois essa falecida ave da crua realidade brasileira nada tem em comum com a mitológica: não ressurgirá de suas cinzas jamais. No máximo, algumas partes em bom estado serão guardadas prum futuro transplante. Me pergunto se a Fênix I ainda bate asas.

Enquanto brinco inutilmente com as palavras, nosso governo se gaba de trazer Copa do Mundo e Olimpíadas pruma cidade em pleno estado de guerra, guerra que o governo não está ganhando. Que ousadia inconsequente a desses barbados! E enquanto isso em BH a tão prometida expansão do metrô já foi "desprometida," pelo menos por agora, pra finalidades eleitoreiras, como tem sido. Isso deve nos dar uma boa idéia do grau de comprometimento dos nossos políticos pra conosco e com os compromissos que fazem.

É como disse um certo romano, O tempora, o mores!


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Abaixo as palmeiras

Se há algo que me irrita profundamente em termos de arquitetura e paisagismo, ainda que eu não passe dum leigo no assunto, é como empregam-se palmeiras onde elas não fazem sentido. Canteiros, fachadas, ou até mesmo no campo, elas destoam do resto da paisagem na maioria dos locais em que são postas. Não consigo ver a relação estética delas com o resto dos ambientes.

Consideremos, por exemplo, o Grande Hotel de Araxá:



quem, ao ver esta foto sem saber do que se trata, pensará que esta pérola se encontra nas nossas "queridas Minas Gerais?" Reparem como, de um complexo condizente com seu contexto mineiro interiorano, o Grande Hotel ganha ares de resort de praia. O Grande Hotel segue o chamado estilo missões, inspirado na arquitetura espanhola no México e na Califórnia. Tem mármores esplêndidos, mobília francesa, lustres e cristais alemães. Em outras palavras, é clássico. E não está na costa, como os edifícios dos nossos hermanos do norte, mas sim encravado a mil quilômetros dela, no limiar do Planalto Central. Nada a ver com palmeiras. Um crime à dignidade do prédio.

Lugar de palmeira é na praia, à beira-mar, com uma rede amarrada entre duas delas pra se deitar displicentemente e ver o vai-e-vem das ondas ao pôr-do-sol. E, dadas as atuais circunstâncias do Campeonato Brasileiro, devo mudar o artigo definido e dizer, também, abaixo o Palmeiras. O Galo vai dar um jeito nisso logo, logo. Mas quem vai dar um jeito nelas?

sábado, 24 de outubro de 2009

Certo ou errado?

O Programa Cidade Limpa, da prefeitura de São Paulo, parece estar se esmerando pra manter a metrópole arrumadinha. Os outdoors irregulares foram banidos com mão de ferro. O próximo passo, aparentemente, são os mendigos. O paulistano agradece, mas nem tanto essa população despossuída que habita nossas ruas. De propósito ou não, as medidas do programa estão encurralando os mendigos, privando-os de seus limitados recursos. Bancos de praças foram dividos em lugares individuais com barras, de modo que ninguem consegue deitar neles. Grades foram postas em frente às escadarias das igrejas pra que ninguem durma nelas. As calçadas são lavadas todas as noites, de modo que deitar nelas se torna um perigo, pelo frio que faz na noite paulistana. Ao amanhecer, as mesmas equipes passam recolhendo colchões, cobertores, folhas de papelão, roupas, calçados e tudo mais que encontrarem. São Paulo tem 15.000 moradores de rua e 9.000 vagas nos albergues.

É uma sacanagem(?). Todo cidadão tem o direito de usufruir de cidades limpas e sem perigo de assaltos, mas o mendigo também é um cidadão com direitos básicos garantidos por lei, que o estado falha em garantir. Se a limpeza urbana passasse e carregasse pertences nossos, ficaríamos justamente ultrajados. Então, quem dá à prefeitura o direito de carregar os parcos pertences dos sem casa? É um tratamento covarde e que beira o desumano. O buraco é mais embaixo, a população não deveria estar omissa a isso.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Por que o seu filho deve ser um metaleiro

Se, como eu, você está num relacionamento sério, leitor do sexo masculino, você sabe que pegar-se falando de casamento e filhos é uma temeridade normal, da qual não tem como fugir. Ossos do ofício. Foi numa dessas ocasiões, em que discutia como melhor criar filhos, que cheguei à conclusão - após uma árdua arguição pela minha namorada - que, quando o assunto é gosto musical e atitudes adjacentes, o melhor para os pais é que seus filhos sejam metaleiros. Já explico.

De modo geral, digamos que o heavy metal constrói caráter. Talvez não seja o ideal, que seria o seu filho ser um amante da música erudita, mas serve bem em vista do que há por aí. Pra começar, menciono a grande quantidade de moleques - e molecas - que decidem aprender um instrumento inspirados por seus ídolos musicais. Pra estar abilitado a tocar esse gênero há que dedicar-se muito, pois o rock em geral está cheio de grandes virtuoses, cujo passado pregresso inclui oito horas diárias de estudo trancafiados no quarto (que isso redima o resto). A molecada se organiza em bandas e aprende a trabalhar em grupo, dando voz a sua sensibilidade. No meio do caminho, muita vezes surge um interesse gradual por outros gêneros musicais mais conceituados, como o MPB, o clássico e o jazz, o que enriquece a experiência musical dos meninos.

O gosto pela música em si trará benefícios ao comportamento do seu filho. Fã de heavy metal (e rock em geral) vai a show pra ouvir a banda tocar - e, por que não, fazer uma modesta tietagem. Ao contrário do que muita gente pensa, shows de metal são organizados, o público é em sua grande maioria pacífico, não rouba, não arruma briga e prestigia as bandas. Elas adoram o Brasil. Ninguém está ali pra beijar 25, dar amassos, transar e engravidar atrás do trio elétrico, ao contrário da turminha de abadá. Vê-se o show, depois comenta-se com entusiasmo sobre a performace da banda, a estrutura da casa, o equipamento e o repertório; come-se um dogão e ruma-se pra casa. Prejuízo: uma minúscula perda de audição que se manifesta por um zumbido que durará até a manhã seguinte. Mais nada.

Engana-se também quem pensa que todo roqueiro é pé-de-cana e dependente químico. Claro que há muitos beberrões no meio, assim como há em qualquer lugar. Mas não há nada no metal que crie uma ligação com álcool. Eu mesmo cresci com meus amigos ao som de power chords e tappings bebendo a boa e velha Coca. Mais de uma vez já vi moleques metaleiros, inconfundíveis em seus trajes pretos, coturnos militares e cabelos compridos e disciplinados, em pé na porta do supermercado comendo biscoito recheado e tomando iogurte. Idílico. Não são mais do que moleques em busca de uma identidade, um senso de grupo, algo que lhes faça crer estar envolvidos numa boa causa, só isso. E pra matar a fome na rua nada melhor que biscoito e iogurte. Sacou?

Meu último argumento de que metaleiros são pessoas muito melhor influenciadas e comportadas do que a galera mainstream do pagode, funk etc. é que o metal explora o reino da mais pura fantasia. Quantas são as bandas que flertam com mitologia, folclore, estórias de reinos distantes, cavaleiros valorosos, princesas "fremosas" e batalhas ao por-do-sol? Pensem em Blind Guardian, Thuata De Dannan e Rhapsody, por exemplo - nada contra elas. Quão ingênuo e inofensivo é o adolescente que viaja na onda de caras de naipe assim?


Combatendo o mal
Preciso dizer mais? Quanto àqueles que acham que metal é coisa do diabo, Ozzy Osbourne é um bufão, coisa do diabo é 5 mil pessoas ensandecidas atrás do trio elétrico, bêbadas, vomitadas, semi-nuas e esfregando-se uma na outra num frenesi incontrolável.
Preciso dizer mais?
Por isso, senhoras de senhores, pais e mães do Brasil, atualmente e por tornar-se, estimulem seus filhos a encher o silêncio sagrado do lar cristão com heavy metal. Os benefícios serão pra vida toda. Seu filho ou filha vai crescer um adolescente tranquilo, adquirirá um gosto por músicas de qualidade e outras artes, não se meterá com más companhias e ficará longe de encrencas. Uma adolescência perfeita, uma passagem perfeita para a vida adulta pacata e bem sucedida. E se forem legal com eles, eles virão visitar com frequência, anotem o que estou dizendo.

E viva o rock!


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Entre os muros da Escola - dentro e fora




Quem quiser refletir sobre esse ótimo filme Laurent Cantet deve, em minha opinião, começar pelo título, cuja imparcialidade está aberta a várias possbilidades: uma crítica, um alerta, um grito de socorro, todos são plausíveis. Dada a complexidade do assunto, penso eu que o que Entre os Muros faz é nos dar uma visão neutra do processo de educação com enfoque no ambiente escolar e pouca interferência do que há de fora.

É claro que não podemos ignorar o que se passa fora da escola pra entender o resultado do esforço de guerra que é formar cidadãos. Não obstante, é muito importante sabermos que métodos norteam o funcionamento das coisas dentro dela. Se há qualquer crítica à escola em Entre os Muros, é porque ela inevitável, uma vez que são focados a sala de aula, o papel do professor, o comportamento dos alunos, a participação de pais, entre outros. O problema é complicado demais pra se acusar apenas um lado. A escola é o local crítico de todos os fundamentos e práticas de nossa civilização. Não o inicial nem o mais importante, pais! É nela que as pessoas devem aprender a entender o porquê de tudo ser como é, o motivo de haver leis, a necessidade de autoridade e disciplina e a importância do conhecimento. Mas a escola não pode simplesmente se valer de seu poder para impor esses fundamentos e doutrinar mentes com os valores que tem por missão transmitir. A escola deve ter a boa vontade para dialogar e não pressupor que os estudantes já entendem claramente porque estão lá. Apesar disso, é muito difícil corresponder às expectativas, pois pessoas em idade estudantil geralmente carecem de maturidade o bastante para entender por que precisam ir para a escola. Muitos chegam lá com idéias tortas do papel dessa instituição. Muitos não se importam, acham que ela não fará diferença em suas vidas sem sequer lhe dar uma chance. De modo geral, há uma boa dose de resistência à cooperacão em ambas as partes.

Voltando ao filme, há aspectos dignos de nota. A interação do corpo docente é bem desenvolvida. A atuação dos adolescentes é muito boa. O fato interessantíssimo é que os professores no filme são de fato professores na vida real, o que facilita a encarnação no papel e acrescenta um tom de documentário à produção. As cenas em sala são fidedignas, deve ter sido muito difícil fazê-las parecer naturais apesar da manobra inusitada de Cantet. O professor François é o retrato do professor atual, que se vê no dever de lutar pra preservar sua autoridade em meio à algazarra e à indiferença ao seu conteúdo. O enfoque no professor de língua francesa não foi por acaso, pois dominar o vernáculo é a competência mais importante de todas: é o pré-requisito para as outras matérias e pra tudo mais na vida. E como ensinar a língua materna se todos já a falam fluentemente? Primeiro, e mais importante, ensinando os alunos a ler e escrever com abilidade crítica. Segundo, ensinando a variedade de língua que nenhum de nós fala no dia-a-dia, o registro formal, ou norma culta. Não a falamos não porque somos burros, mas porque a norma culta é uma convenção nada realista, um pedaço morto e congelado de língua necessário para que haja regularidade sobre todo o território onde um idioma é falado. Os desafios são enormes.

Entre os Muros se poupa os trabalhos de apresentar uma linha crítica aberta e de propor soluções ao problema da escola. Apenas tenta mostrar a escola como ela é, propondo, sim, que os desafios que ela enfrenta são semelhantes em qualquer lugar (em nosso país eles chegam a níveis gritantes). Todos já foram alunos, por isso são capazes de contribuir com o debate. Assistam e pensem.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A opulência dos trópicos e dos nórdicos

Em Belo Horizonte, um caminhão carregando quatro vezes mais gado do que deveria é preso após acidente. Como a carga não tivesse licença do Ministério da Saúde, dezenas de bois foram sacrificados. Em Estocolmo, uma espécie não-nativa de coelho é tão bem adaptada que se tornou, por assim dizer, uma praga. Como causam incoveniências ao erário, sujando parques e ameaçando a fauna e flora locais, a prefeitura da capital sueca permite que milhares desses bichos sejam caçados todos os anos. Em 2008 foram 6 mil. O destino final de tantos coelhinhos mortos: o alto forno.

Se você pensou que os suecos estão comendo churrasco de coelho em escala industrial, sua ingenuidade prova que você é um brasileiro acostumado ao sol, à cerveja gelada e à picanha na brasa. No frio das terras nórdicas as necessidades são mais elementares: os coelhos geram energia para esquentar lares suecos. Seus corpos são congelados até atingirem um número alto, depois são esmagados, triturados e levados ao fogo com restos de lixo, pixe e o que mais houver. Sustentabilidade ambiental e algumas famílias aquecidas inverno adentro.

Um holocausto diário? Pense à vontade, pois são ambos problemas extremamente complexos. Enterrar toneladas de lixo no solo, às vezes perto de cursos d`água, me parece até um problema mais sério, mas nos dois casos acima estamos falando de vidas dizimadas com pouca ou nenhuma consideração. O que me assusta é como podemos estar tão confortáveis perante situações assim. Na Suécia, a reação ao uso dos coelhos foi chamada "moderada." Aqui no Brasil, todos sabemos que há muitos fornecedores irregulares de carne abastecendo o mercado com produtos desprovidos de higiene e dignidade, e no entanto a grande maioria de nós sequer se lembra da palavra procedência quando vai às compras. Como diria Hamlet, se tivesse tido a chance de parar por aqui, há mais entre o abatedouro e aquele espetinho do que sonha nossa vã filosofia.

A crueldade com que a vida tem sido tratada é, em grande parte, a forma desumanizadora com que o capitalismo lida com as coisas, à medida que a procura por um produto e a perspectiva de lucro atingem níveis gigantescos. Acontece que não podemos simplesmente culpar o sistema como se estivéssemos fora dele. Nós, também, somos agentes dele e precisamos reavaliar nosso papel. Sei que é difícil, mas precisamos pelo menos refletir se quisermos de fato buscar soluções. Não podemos apenas cobrar de nossos políticos. Temos que nos compremeter e contribuir para melhorar esse mundo fodido.



terça-feira, 13 de outubro de 2009

Broadcast Yourself

Recentemente um dos criadores do youtube esteve no Brasil. Chad Hurley é formado em artes, tem trinta-e-poucos anos, é casado, tem filhos e provavelmente mora numa bela casa no Vale do Silício. Segundo ele, a fortuna ganha na venda de sua cria para a Google não mudou seu estilo de vida, exceto que ele agora pode viajar mais e frequentemente se encontra com os poderosos, tipo o Barack Obama e, é claro, o Pedro do Chip.

Em entrevista à Globo News, Hurley mostrou-se um cara simpático, tranquilo e não diferente de nós mortais. Ele e seus dois parceiros, um dos quais obviamente asiático e encarregado da computaria  pesada, já tinham desenvolvido o sistema PayPal que facilita transações na web. Um belo dia em 2005, os caras quiseram compartilhar seus vídeos caseiros, de farras com amigos, mas não encontraram um meio fácil de fazê-lo. Decidiram, assim, montar um site simples que servisse como um álbum, um espaço onde eu e você pudéssemos publicar nossas próprias aventuras com uma câmera. O resto nós sabemos

Perguntado sobre o que jovens empresários devem fazer para ter sucesso, Hurley respondeu calmamente, com seu jeito de surfista californiano, que eles tinham de "começar de algum lugar." Parece algo muito vago e evasivo prum cara do calibre dele dizer, mas ele elabora mais adiante que o fundamental é fazer algo de que se goste, algo que acrescente à sua pessoa, aos seus amigos, à vida. Algo que gere uma mudança, o que não significa necessáriamente uma mudança do porte da que o youtube causou em nossas vidas. Tudo muito idealista, muito romântico, não? Não!

É claro que para se dar bem em qualquer empreitada é necessário ter alguma noção de quem pode te levar aonde você quer chegar, os chamados figurões, big shots, ou melhor ainda, os movers and shakers. Quem domina bem os ditames do sistema pode conseguir tudo mais fácil, mas o que importa no fritar dos ovos é ter idéias, conteúdo, criatividade. Se você tem uma banda e quer chegar ao estrelato, é melhor fazer contatos logo e se dispor a uma certa quantidade de exploração, mas se não tiver capacidade de compor uns hits ou um conjunto de obra muito bom, não adianta. Se você quer se dar bem no meio acadêmico, precisa dum mentor, mas se não tiver ideias interessantes pra subir nesse seleto meio, o mentor vai te ajudar achando no fundo que você não passa de um aluno mediano. E assim vai em qualquer área.

Isso não é dizer que temos que ser originais ou geniais para ter sucesso, nem que sucesso significa riqueza e fama. Significa que quem acha que ser esperto é o mais importante está tão iludido quanto quem acha que só o talento basta. O sistemas limitam muito a criatividade dos criadores pra nutrir seus interesses próprios, é verdade; mas não nos esqueçamos de que o mundo vive de idéias, às vezes alguma inovação. O segredo por trás do sucesso do youtube não é só o fato de ser baseado no todo-poderoso Vale do Silício e pertencer à Google, mas sim o fato de que seus criadores tiveram uma boa idéia e correram atrás dela com know-how e paixão. Vamos dar crédito pros caras, o Sr. Hurley é um cara bastante bem apessoado que podia simplesmente ter decidido virar modelo de cuecas, mas decidiu usar a cabeça e ser alguém.

Por isso, fellas, broadcast yourselves! Nunca desprezem seu potencial. Corram atrás dos seus projetos com consciência e boa vontade, pois uma idéia é como uma semente: se cair em terreno fértil, vinga.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

I'm in the mood for a dance

Hoje à noite assisti com Alita a Mamma Mia, musical com Meryl Streep, Pierce Brosnan e Colin Firth ao ritmo do ABBA. Como todo musical, este diverte quando não entedia e tem seus momentos constrangedores, quando um ator tenta alcançar uma nota que definitavamente não consegue. O que o faz melhor do que os outros que já vi, além do cenário disarming das ilhas gregas, é obviamente a trilha sonora do velho grupo sueco, ao som do qual até eu! tenho vontade de dançar.

Ouvir uma banda como o ABBA me faz pensar que às vezes o saudosismo é mais do que um sentimento natural do ser humano. Afinal, a qualidade da música pop de hoje nem existe se a compararmos com o que embalou a juvetude dos meus e dos seus pais. Vejam, por exemplo, como bombam as festas Supra Sumo em BH. Diversos artistas atuais já prestaram homenagem ao ABBA, e mesmo que você não goste nem de um nem de outro, isso prova que esse quarteto foi grande. E ainda é. Atualmente há muito pouco ou nada que podemos considerar digno de um cover, excluindo, é claro, a inusitada versão de "Oops I did it again" do Children of Bodom. A não ser que você ache que o Justin Timberlake é fooooda. Me vem à cabeça Alanis Morissette, que fez uma paródia da ridícula "My Humps", do Black-eyed Peas, e conseguiu ser mais ridícula ainda em seu desespero por mostrar como ela é fooooda. Um belo exemplo de tiro pela culatra.

Mesmo sabendo que tudo é cíclico, é difícil prever que a música pop voltará um dia à inocência e bom gosto de outrora, quando melodias bonitas ainda eram bonitas e instrumentos de verdade eram usados pra se compor e tocar as músicas. O pessimismo também é da natureza humana. Mas como o que é bom nunca sai de moda nem perde seu valor, podemos pelo menos manifestar nossa insatisfação com a merda musical generalizada ignorando as rádios e a mtv e acessando o youtube pra ouvir o que realmente nos toca.

domingo, 11 de outubro de 2009

Perderam a vergonha

Sexta-feira 9/10 o Jornal Nacional rodou uma matéria dizendo que os brasileiros classificados negros e pardos estão abandonando a vergonha de se assumirem como tais, principalmente por causa da crescente política de cotas que vem ao seu resgate. Uma entrevistada, que parecia ser líder de algum movimento afro-brasileiro, respondeu que os negros e pardos perderam a vergonha de assumir que têm um avô negro, que têm sangue negro, que têm pele escura. Até aí tudo bem.

Perder a vergonha é muito bom. Ter sangue negro não é nenhum problema, pele escura sofre menos com o sol. Há que se orgulhar de ter raízes africanas. Mas dizer que a mudança está acontecendo estimulada por conveniência e interesse é embaraçosamente ambíguo: perderam a vergonha em que sentido, na cor ou na cara?

Mais cuidado, gente, que o assunto é delicadíssimo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Se um dia chuvoso na cidade fosse só isso


Grão da vida

A soja (Glycine max) é originária do extremo oriente. Sua importância na subsistência dos povos daquela região é imemorial. O nome vem do chinês jiàng yóu, que em japonês virou shōyu, que finalmente deu as pronúncias européias. Rica em proteína, dela se fazem vários pratos diferentes, alguns dos quais conhecemos, como o insosso tofu, o azedo natto e a sopa feita com pasta miso (leia este interessante verbete sobre gosto adquirido).

Hoje a soja atende a inúmeras demandas do mercado alimentício e até doutros, sendo especialmente apreciada pelos vegetarianos, que, graças a ela, podem degustar sem culpa sanduíches, lasanhas, strogonoffs, pasteis e até mesmo cachorros quentes. Sim! há salsichas de soja, não muito eficientes no quesito sabor, mas muito no quesito aparência e textura. Além desses itens paliativos para vegetarianos, o leite de soja nutre indivíduos com a incoveniente intolerância a lactose. De preferência não processada, comer soja ajuda mulheres a amenizar os efeitos da menopausa, a chamada reposição hormonal. Por fim, não podemos esquecer o trivialíssimo óleo de soja, sem o qual teríamos de pagar mais caro pelo óleo de milho ou girassol para cozinhar nosso arrozinho. No mundo globalizado, a soja figura entre as commodities mais importantes, constituindo um exemplo singular: os maiores produtores são os gigantes do Novo Mundo, Estados Unidos e Brasil respectivamente, de quem a própria China compra navios e navios do seu precioso e nativo frumento.

Apesar de todos os benefícios listados acima, o grão tem sido relacionado a alguns problemas ambientais e éticos ultimamente. Para aumentar sua produção, foram desenvolvidas variedades trans, o que suscita questionamentos quanto ao direito do homem de interferir tão intrinsecamente nos meios da natureza. Mais urgentemente, a soja tem causado a destruição de muita mata nativa, o que põe em cheque outra idéia, a de que o futuro está nos biocombustíveis. Nada é tão simples assim.

No país, fala-se da fronteira da soja, que engloba os longínquos Mato Grosso, Amazonas e Rondônia, entre outros, e de como essa "praga" está condenando a floresta tropical. Alguns parecem esquecer que a soja vem varrendo largas extensões do nosso cerrado e já bate a nossas portas. É o caso do Triângulo Mineiro, onde, em Uberaba, um homem morreu terça-feira 7 esmagado por nada menos que 12 toneladas de soja.

A princípio um acidente de trabalho, uma fatalidade lamentável. No meu modo de ver, uma brincadeira lamentável. É difícil imaginar a situação com exatidão: o rapaz dava manutenção nas máquinas quando escorregou pra dentro dum dos funis escoadores. De qualquer forma, meter-se em 12 ton. de grãos confinados num galpão sem os devidos cuidados é querer demais, é como querer escalar a paredes de Itaipu, em pleno funcionamento, para pegar uma balde d'água ou dois. Ou mesmo entrar numa jaula com um tigre faminto e achar que ainda vai dar um jeito nele só com as mãos nuas. Com tantas notícias sobre tufões, tsunamis, enchentes etc. ilustrando a força avassaladora da natureza sobre nós, um bando de homens descuidados acha que "manjar" (palavra do pai da vítima) é o bastante.

Imaginem a pressão de toneladas. Os bombeiros gastaram 18 horas pra resgatar o corpo. Foi preciso usar galões de oxigênio para mergulhar nas profundezas de grãos.

Tanto trabalho pra dar fins os mais diversos à soja, tão pouco pra garantir que uma pessoa não saia morta de sua parte na logística da coisa. Um sacrifício pelo nosso hamburger, pelo nosso leite, pelo nosso óleo, pela colheita abundante. Assim se perpetua a vida.

http://www.socbrasileiradegeografia.com.br/revista_sbg/carlos%20a%20f%20silva.html

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Natureza surpreendente


Recentemente um beija-flor chocou e criou sua prole de 2 beija-floresinhos numa modesta árvore de vaso no hall do prédio da Alita, ao alcance geral. Não sei se essa dona beija-flor foi calculista em sua ousadia ou muito sortuda em sua necessidade. Acho que foi esperta, pois talvez noutro lugar ela tivesse tido mais risco, afinal no prédio ela estava relativamente protegida pelas paredes da civilização, cheio de velhinhas suspirosas de ver que essas coisas acontecem em seus bairros.

Por uns dias Alita e eu pudemos acompanhar o crescimento desses bichinhos, foi muito legal. Lá estavam os dois, magicamente comportados num ninho tão pequeno, as cabeças espichadas pra fora como que esperando mamãe chegar com o rango. De repente, havia só um. Mais um pouco e o outro também zarpou, deixando o ninho, aquela modesta mas belíssima construção por um ser tão pequeno, vago. Quando vimos, lá estavam os dois voando ao redor da árvore em frente a nossa janela, dois pontinos pretos apressados sob a supervisão duma tranquila genitora.

É a improbabilidade que faz isso tudo mais saboroso. Bravo, mãe natureza!

Tinha que ser ele outra vez



Longevidade é sinal de qualidade?

Chaves já é um assunto mais do que batido e desbotado. E, no entanto, continua vivo em nossas vidas, ainda que seja apenas quando zapeamos do SBT para a Band ou TV! com uma cara de "Puts, Chaves até hoje?!" Depois de todos esses anos, quem dizia que só há duas coisas certas na vida pode acrescentar mais uma: impostos, a morte e... Chaves.

De LPs, canudinhos em forma de óculos (quem ainda tem essa jóia?), camisas com o rosto do Seu Madruga e recentemente a visita de Vesgo e Silvio ao ator de Quico, homenagens variadas já foram prestadas ao "Chavinho" e seus vizinhos. Venho me render a este eterno seriado depois de ver esta criativa montagem ao lado, que a Alita me mostrou e está no blog Buteco da Net. Uma prova de que, batido ou não, Chaves continua firme e forte e se reiventando.