segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Entre os muros da Escola - dentro e fora




Quem quiser refletir sobre esse ótimo filme Laurent Cantet deve, em minha opinião, começar pelo título, cuja imparcialidade está aberta a várias possbilidades: uma crítica, um alerta, um grito de socorro, todos são plausíveis. Dada a complexidade do assunto, penso eu que o que Entre os Muros faz é nos dar uma visão neutra do processo de educação com enfoque no ambiente escolar e pouca interferência do que há de fora.

É claro que não podemos ignorar o que se passa fora da escola pra entender o resultado do esforço de guerra que é formar cidadãos. Não obstante, é muito importante sabermos que métodos norteam o funcionamento das coisas dentro dela. Se há qualquer crítica à escola em Entre os Muros, é porque ela inevitável, uma vez que são focados a sala de aula, o papel do professor, o comportamento dos alunos, a participação de pais, entre outros. O problema é complicado demais pra se acusar apenas um lado. A escola é o local crítico de todos os fundamentos e práticas de nossa civilização. Não o inicial nem o mais importante, pais! É nela que as pessoas devem aprender a entender o porquê de tudo ser como é, o motivo de haver leis, a necessidade de autoridade e disciplina e a importância do conhecimento. Mas a escola não pode simplesmente se valer de seu poder para impor esses fundamentos e doutrinar mentes com os valores que tem por missão transmitir. A escola deve ter a boa vontade para dialogar e não pressupor que os estudantes já entendem claramente porque estão lá. Apesar disso, é muito difícil corresponder às expectativas, pois pessoas em idade estudantil geralmente carecem de maturidade o bastante para entender por que precisam ir para a escola. Muitos chegam lá com idéias tortas do papel dessa instituição. Muitos não se importam, acham que ela não fará diferença em suas vidas sem sequer lhe dar uma chance. De modo geral, há uma boa dose de resistência à cooperacão em ambas as partes.

Voltando ao filme, há aspectos dignos de nota. A interação do corpo docente é bem desenvolvida. A atuação dos adolescentes é muito boa. O fato interessantíssimo é que os professores no filme são de fato professores na vida real, o que facilita a encarnação no papel e acrescenta um tom de documentário à produção. As cenas em sala são fidedignas, deve ter sido muito difícil fazê-las parecer naturais apesar da manobra inusitada de Cantet. O professor François é o retrato do professor atual, que se vê no dever de lutar pra preservar sua autoridade em meio à algazarra e à indiferença ao seu conteúdo. O enfoque no professor de língua francesa não foi por acaso, pois dominar o vernáculo é a competência mais importante de todas: é o pré-requisito para as outras matérias e pra tudo mais na vida. E como ensinar a língua materna se todos já a falam fluentemente? Primeiro, e mais importante, ensinando os alunos a ler e escrever com abilidade crítica. Segundo, ensinando a variedade de língua que nenhum de nós fala no dia-a-dia, o registro formal, ou norma culta. Não a falamos não porque somos burros, mas porque a norma culta é uma convenção nada realista, um pedaço morto e congelado de língua necessário para que haja regularidade sobre todo o território onde um idioma é falado. Os desafios são enormes.

Entre os Muros se poupa os trabalhos de apresentar uma linha crítica aberta e de propor soluções ao problema da escola. Apenas tenta mostrar a escola como ela é, propondo, sim, que os desafios que ela enfrenta são semelhantes em qualquer lugar (em nosso país eles chegam a níveis gritantes). Todos já foram alunos, por isso são capazes de contribuir com o debate. Assistam e pensem.

Um comentário:

  1. grande filme que como você disse, não retrata a escola propriamente dita mas,a propai sociedade. Mostra uma Paris(o lado norte e leste) dos guetos de imigrantes bastante diferente dos lados oeste e sul dos filmes e novelas!!!

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